Ar rarefeito

Não interprete isso da forma errada

Fazia tempo já que não tinha um insight novo enquanto corria.

Talvez a falta de performance e evolução seja o motivador, não sei.

Mas, nesta semana, enquanto corria em Porto Alegre, tive um “estalo” que possivelmente vai resolver o problema de performance (e resolveu o de não ter insights).

Passei os 10 últimos dias em Porto Alegre, corri 4 vezes.

Mesmo esforço, mesmo tênis, mesma condição de sono e até mesma temperatura que Brasília.

Uma coisa, no entanto, foi me deixando curioso: minha frequência cardíaca caiu e consegui melhorar minha velocidade.

Ainda longe das fases de ouro, mas muito melhor do que em Brasília.

Lembrei que quando estava viajando de Lua de Mel, minha frequência também tinha sido baixa sem motivo aparente. 

Na última das 4 corridas em Porto Alegre, fiz um teste: forcei mais o ritmo e vi que a frequência não disparou como estava disparando.

Mas eu já me conheço o suficiente para saber que não fui eu que tive uma grande evolução, tinha algo que eu não estava considerando, algum dado que estava faltando eu analisar.

Esses eram os dados de algumas corridas que passavam na minha cabeça.

Métrica e Cidade 

Porto Alegre

Roma

Tokyo

Brasília

Distância

7,5km

6,5km

6,5km

7km

Velocidade Média

12km/h

11,5km/h

11,5km/h

11,5km/h

Frequência Cardíaca

148bpm

144bpm

146bpm

156bpm

Avaliação

✅ Na Zona Ideal de frequência

✅ Na Zona Ideal de frequência

✅ Na Zona Ideal de frequência

⚠️ Fora da zona ideal de frequência (sugestão de desaceleração)

Em tese, nada explicava a diferença de desempenho. 

Bom, pelo menos nenhum número que está nessa tabela.

A questão é que eu precisava olhar também para dados fora da corrida, olhar além do que está escrito.

Comecei a pensar em diferentes fatores, o que tinha em comum nos locais e nos resultados da corrida.

Aliás, isso é uma técnica poderosa de análise de dados, reconhecimento de padrões.

Eis que o estalo veio: Brasília não está no nível do mar! Será que altitudes não tão grandes quanto os famosos 4000m da Bolívia podem afetar a frequência cardíaca?

Minhas corridas em Roma, Tokyo e Porto Alegre todas com frequência controlada, todas no nível do mar.

Bastava pisar em Brasília que a frequência aumentava.

Poderia os 1100 metros de altitude serem os culpados por uma falsa leitura dos dados?

Em uma consulta rápida, a hipótese se provou verdadeira:

“Em altitudes entre 700 e 1000m, é comum que a frequência cardíaca aumente de 5% a 10% em esforços moderados a intensos”, segundo estudos do American College of Sports Medicine

Ou seja: eu não estava rendendo pior, estava respirando ar mais rarefeito — e pagando mais caro por isso (tanto no desempenho do treino quanto na interpretação dos resultados).

O problema é que durante esse ano inteiro, esse número me fez segurar o ritmo. 

Ao segurar o ritmo, o fôlego não evoluía e o corpo foi encontrando uma nova velocidade normal muito aquém do que poderia ser. 

Mas o problema, ao que tudo indica, não era o meu corpo. Era a altitude. Um fator externo que eu estava interpretando como limitação interna.

A ficha caiu: eu estava treinando sob um referencial errado.

E por que isso é relevante para você?

Bom... o percurso de hoje fala de interpretar um referencial errado e isso pode estar impedindo sua empresa (ou você mesmo) de crescer.

Pensa comigo: o mercado ficou mais competitivo, o tráfego está mais caro, as pessoas mais endividadas, a vida mais cara e, portanto, as conversões caíram. 

Muita gente interpretou isso como “problema interno” e pisou no freio. Cortou investimento, parou de testar, diminuiu produção. Mas e se for só o “ar rarefeito”?

Não que a solução não seja interna, sempre vai ser, mas o direcionamento e o tipo de ação que tomamos muda.

Entenda uma coisa: dados nem sempre trazem respostas. Às vezes, eles serão ferramentas para perguntas melhores.

Foi só quando parei para comparar o contexto que a hipótese surgiu. 

Isso só foi possível porque, além de ter os dados, eu decidi olhar para eles de forma relacional — buscando padrões.

Eu não posso mudar a altitude, mas posso mudar meu treino para me adaptar melhor a ela.

Da mesma forma, eu não consigo controlar fatores externos que afetam as vendas e a conversão, mas posso preparar a minha empresa para tal: criar uma esteira de produtos melhor, aumentar a qualidade dos conteúdos, mudar a abordagem, e por aí vai.

Se eu tivesse seguido a frequência cardíaca como régua absoluta, talvez nunca tivesse evoluído, talvez tivesse aceitado uma nova performance pior. 

O mesmo vale para métricas mal interpretadas: olhar para CAC sem olhar para LTV, olhar para ROAS só no curto prazo, olhar para engajamento sem olhar para a conversão.

A má leitura de um indicador pode paralisar sua empresa.

Fatores externos normalmente são factuais, mas a interpretação que damos a eles pode ser o que nos limita. O dado em si não te trava. O jeito como você lê é que faz isso.

E isso vale para qualquer negócio: não adianta ter dados se você não está disposto a investigar os padrões

Se você não cruza informações, não levanta hipóteses, não considera contexto, os dados viram inimigos — e não aliados.

E mais: um dado mal interpretado pode te fazer desistir de algo que está funcionando.

Entenda uma coisa: Os dados não são o problema. Analisá-los fora do contexto sim.

Se você mudar o contexto, muda a interpretação.

Se você muda a interpretação, muda a decisão.

Se você muda a decisão, muda o resultado.

Talvez o que está te impedindo de evoluir hoje não seja a falta de esforço. É o referencial errado.

Entendi que, se minha frequência ficar de 5% a 10% maior nos próximos meses em Brasília, está dentro do esperado, ou seja, hora de acelerar os treinos.

Seu momento de refletir

- Você tem analisado dados cuidando o contexto?

- Será que não tem algum padrão que explica algo que você não estava entendendo?

- Você mudou alguma ação em cima de algum dado que estava estranho?

Espero que tenha curtido o percurso (a nível do mar) de hoje.

Grande abraço,

Mazzillo

Dados no nosso cotidiano

A corrida de rua não para de crescer.

As estimativas feitas pela ABRACEO (Associação Brasileira dos organizadores de corrida de rua e esportes outdoor) apontam para mais de 13 milhões de corredores de rua no país, alcançando impressionantes 6% da população.

Além disso, o mercado de inscrições em prova movimentou mais de R$1 Bilhão no último ano.

O impacto é ainda maior se contarmos a parte turística envolvida nas provas, que gerou uma movimentação de R$2.5 milhões, com um dado impressionante de que 48% dos atletas que participaram de provas, o fizeram fora de sua cidade.

Vá uma milha a mais

Já que estamos falando de olhar para referenciais, separei um relatório que mostra como o perfil de buscas de conteúdo está mudando com o avanço das ferramentas de IA. Vale a leitura aqui.