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Erros não forçados
Por que os cometemos?
“Todo o tempo e energia que você consome para consertar erros não forçados deixam de ser usados na construção dos seus resultados.”
A sensação de aprender algo totalmente novo pode ser bem assustadora.
Porém, a sensação de aprender algo que você sempre executou sem nunca ter estudado é libertadora.
Comecei aulas de tênis essa semana. Vou somar isso à corrida por um tempo para poder jogar com amigos e me desafiar a evoluir.
Eu “jogo” tênis desde os meus 10 anos. Nunca fiz uma aula, nunca tive ninguém analisando o meu jogo e nunca tinha ido atrás de conhecimento sobre isso.
Como eu jogava muito esporadicamente e conseguia não ser horrível, só jogar me bastava.
Muitos amigos começaram a fazer aula de tênis recentemente, a Manu também começou e os relatos são de que, com o tênis, se aprende muito em outras áreas da vida também.
Na primeira aula o professor já apontou dois problemas que eu tenho: acelerar no backhand (golpe do lado inverso da mão que está com a raquete) - como faço no forehand (golpe com o lado da mão que está com a raquete) - e tentar definir o ponto rápido.
Duas pequenas melhoras e já consegui melhorar bastante minha taxa de acerto.
O tênis tem um conceito que se aplica diretamente nos negócios: a classificação de erros.
Erros forçados: são cometidos devido a uma bola bem jogada pelo adversário
Erros não forçados: erros cometidos inteiramente por culpa do jogador
Se trouxermos isso para negócio:
Erros forçados: cometidos por grandes mudanças de fatores externos (como uma mudança de lei do dia para a noite).
Erros não forçados: cometidos por falhas em nosso processo de tomada de decisão.
O mais legal do paralelo é que, da mesma forma que um tenista usa esses dados para melhorar seu resultado, as empresas também podem.
Roger Federer foi indiscutivelmente um dos melhores tenistas do mundo. A elegância do jogo, a precisão e a habilidade de saber quando acelerar e quando ser mais estratégico eram seus grandes diferenciais.
Nem sempre foi assim.
Federer, no início da carreira, já mostrava muito talento sim, mas sua agressividade nos pontos fazia com que ele tivesse um índice de erros não forçados que, por vezes, custava a vitória nos jogos.
O grande segredo da sua evolução como jogador não foi acertar mais: foi errar menos.
Federer começou a colocar a pressão para o adversário, que sabia que se não jogasse a bola perfeita para o outro lado, provavelmente receberia uma “punição” de volta.
Os números mostram que, durante o seu auge, ele teve o menor índice de erros não forçados da carreira.
Isso vale para negócios, com uma pequena ressalva.
No tênis, cada decisão pode custar um ponto. Cada ponto tem exatamente o mesmo valor dos demais.
No mundo dos negócios, certas decisões têm baixíssimo impacto em caso de erro. Algumas, porém, podem custar a empresa.
Eu diria que errar é fundamental no processo de crescimento de uma empresa, desde que sejam erros controlados e que gerem aprendizados.
Agora, um erro grande (e não forçado) deveria fazer você repensar seu processo de decisão, dado que a responsabilidade foi inteiramente sua.
O primeiro passo para melhorar essa perspectiva é treinar para identificar os momentos e decisões, em que, a análise e aprofundamento é necessária.
Analisar, raciocinar e interpretar os dados disponíveis ao invés de reagir.
Se eu soubesse que acelerando o backhand eu errava 70% das bolas, provavelmente eu agiria diferente.
Quantos erros não forçados você comete hoje simplesmente por não pensar e analisar o que está na sua mão?
Quantos erros pequenos você não deixa de cometer (e gerar aprendizado) porque quer pensar demais antes de agir?
A simples categorização de decisões entre “cadenciadas” e “aceleradas” que fez do Federer um dos melhores do mundo, pode fazer o mesmo por você.
Mas essa construção trata de um dos tipos de erros, os não forçados. E os que a gente tem menos controle?
Bom, aí vamos nos valer de outra lenda do tênis: Novak Djokovic.
Ao estudar o caso de Federer, Djoko e a equipe tiveram a mesma ação frente aos erros não forçados, estudar cada tipo de golpe para diminuir esse número na medida certa.
E eles foram além. Começaram a estudar o jogo dos adversários para ter uma condição melhor de combater os erros forçados (aquelas jogadas em que a única possibilidade é a de reagir ao ponto).
Para isso, começaram a treiná-lo para que a reação não fosse no momento do ponto e sim nos treinos.
Com isso, a chance de ele reagir corretamente jogando com adversários mais difíceis aumentava.
Sim, o Djoko tem uma equipe de análise de dados que estuda seus adversários e o seu próprio jogo e propõe melhorias.
Aliás, a análise de dados tem tomado os esportes e hoje passou a ser uma obrigação para atletas e equipes de alta performance. Se você tiver curiosidade de ver a aplicação disso no tênis, dá uma olhada aqui.
Voltando à ascensão do Djoko, os movimentos de melhoria foram feitos em momentos diferentes.
Na primeira fase, foco em diminuição de erros não forçados. Na segunda, trabalhar para mitigar os erros forçados.
O resultado é o que se vê nessa tabela:
Indicador | Fase 1 | Fase 2 | Fase 3 |
---|---|---|---|
% Pontos Ganhos | 49% | 52% | 55% |
% Vitórias | 49% | 79% | 90% |
Ranking Mundial | 100+ | 3 | 1 |
Percebe como uma pequena mudança em pontos ganhos em cada fase o tornou o melhor jogador do mundo?
Não é ganhando todos os pontos, é ganhando mais do que perdendo.
Melhorar o domínio sobre si, o fez aumentar de forma relevante o número de vitórias. Análise dos seus próprios dados e comportamentos.
Some a isso uma visão muito melhor do externo, e ele virou o número 1.
Na minha humilde visão, uma aula sobre como devemos trazer isso para nossas empresas: melhorar as decisões que só dependem da gente e depois passar a mapear e ter um controle muito maior do mercado.
Diminuindo os erros, sobra energia e tempo para aumentar os acertos.
Seu momento de refletir
- Quais são os erros não forçados que você está cometendo?
- Qual a causa desses erros?
Espero que tenha curtido o percurso de hoje.
Grande abraço e até a próxima milha,
César Mazzillo
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Dados no Cotidiano:
Cada ponto importa (mesmo)!
Você sabia que em jogos de tênis profissional a diferença entre um jogador médio e os melhores do mundo é muito menor do que parece?
Segundo um estudo da IBM em torneios como Wimbledon, os campeões geralmente vencem apenas 53% dos pontos que disputam, enquanto os perdedores ficam perto dos 47%.
Essa pequena margem de apenas 6% explica por que alguns jogadores parecem dominar completamente o esporte. Um pontinho aqui, outro ali, e o resultado é outro jogo, outro campeão.
Por exemplo, quando Novak Djokovic venceu Wimbledon em 2023, cometeu cerca de 3 erros não forçados por set a menos do que seus adversários ao longo do torneio.
Parece pouco, mas esses 3 pontos por set significam, ao fim de cada partida, cerca de 12 a 15 pontos extras, o que quase sempre é o suficiente para garantir a vitória.
Às vezes, mais importante do que fazer algo genial é simplesmente não errar o simples.
Vá uma milha a mais:
Falando do assunto tênis, não posso deixar de recomendar a biografia de Roger Federer