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O caminho mais fácil
e as ideias perigosas que ele gera
“A maioria dos conselhos é dada sem o menor esforço de entender o problema real.”
Uma das coisas que mais tenho gostado de Brasília são os passeios pelo bairro no final de semana com a Manu e o Bolty. Só que nesse final de semana, em um destes passeios incríveis, tivemos que ouvir uma das falas mais idiotas da nossa vida. (até o Bolty se assustou). E, o pior de tudo, a fala foi de pais para o seu filho... Enquanto caminhávamos por uma das praças do bairro , resolvemos parar para assistir um jogo de futebol de crianças. Meninos jogando com meninas de idades diferentes, alturas diferentes e uma diversão gigante. | ![]() |
Falei pra Manu: “Vamos ver um pouco do jogo? Vai ser divertido.”
E foi. Tanto por ver crianças que nem se conheciam (e chamavam umas as outras pelo nome do time ou pelo país da camiseta – “Oh Itália, passa pro Inglaterra”, “O Espanha é muito ruim!”) se entrosando tão bem quanto por vê-las em segurança jogando em uma praça pública.
Eis que um dos pais larga: “Filho, deu de rua e futebol, né. Vamos pra casa jogar videogame, dá tchau pros amiguinhos”.
Ficamos incrédulos. Eu só conseguia pensar “Eles tão sem paciência de ficar 30 minutos com o filho na praça no Domingo e tão apelando pro videogame pra poder ir pra casa”.
E o que piora a situação...uma criança de 8 anos não tem escolha nessas situações.
E aí vem um dos problemas dos caminhos mais fáceis: eles costumam vir acompanhados de soluções ou conselhos idiotas, como o acima.
E o outro problema é que no longo prazo ele tende a gerar caminhos bem mais difíceis.
Pensa comigo: o que é melhor para uma criança de 8 anos?
Jogar futebol com os amigos ao ar livre ou ficar encerrado em um quarto domingo à tarde jogando videogame?
Esse texto não é sobre esse menino, mas sobre quando tentam nos colocar na posição do menino, ou pior, quando nós mesmos nos colocamos.
Quando tentamos resolver problemas complexos tratando o sintoma e não a causa.
Quando aceitamos “diquinhas” de quem nem se prestou a entender o nosso contexto.
Afinal, quem nunca conheceu pessoas que escutam três palavras do seu problema e já se sentem prontas para salvar sua empresa (ou sua vida).
Sem fazer uma pergunta, sem precisar de um detalhe, já sabem exatamente aquilo que você precisa fazer.
A real é que existem conselhos que não foram pensados para te ajudar. Eles foram ditos para parecer que a pessoa sabe algo que você não sabe (e potencialmente ganhar algo com isso).
E o caminho para saber separar bons de maus conselhos têm muito poucos atalhos.
Você precisa de conhecimento real, aprofundamento e domínio dos seus resultados, sejam eles bons ou não (ah, e você precisa de domínio dos seus dados).
Quanto mais informações você tiver, mais específico vai conseguir ser ao pedir conselhos (e mais improvável de cair em uma sugestão vazia).
Além disso, é mais provável de você se cercar de pessoas iguais.
Pessoas que vão querer escutar o seu problema com calma (afinal, elas também vão aprender com ele) e que só vão te dar sugestões caso elas tenham bastante embasamento devido ao caminho que já trilharam.
Em uma das primeiras edições da Extra Mile eu trouxe o conceito da Matriz do Domínio do Resultado.

Cada categoria dessa matriz funciona da seguinte forma:
Zona da Cegueira (Movido por Achismos, Superficialidade e Resultados Positivos):
Aqui mora a "sorte". Você atingiu o resultado, mas não sabe o porquê (mas muitas vezes acha que sabe). Isso é perigoso porque você não consegue repetir o resultado consistentemente. É o "foi bom enquanto durou", e o risco da ilusão de que se deu certo uma vez, dará sempre, sem esforço adicional.Zona do Desespero (Movido por Achismos, Superficialidade e Resultados Negativos):
O cenário aqui é o pior possível. Não atingiu o resultado e ainda não faz a mínima ideia do porquê. É um caminho de frustração constante, sem clareza para mudar ou melhorar. É onde você está mais suscetível a cair em dicas furadas e conselhos ruins de quem não se preocupa de fato com você.Zona de Aprendizado (Movido por Dados e Resultados Negativos):
Você não atingiu o resultado, mas entende exatamente por que isso aconteceu. Isso é valioso, pois permite corrigir a rota. Cada erro é transformado em conhecimento, em evolução.Zona da Inteligência (Movido por Dados e Resultados Positivos):
Aqui está o objetivo máximo. Você atingiu o resultado e sabe exatamente o motivo disso. Essa é a verdadeira inteligência: é ter domínio dos processos, poder replicá-los e aperfeiçoá-los continuamente. Aqui mora o crescimento real, a escala dos seus resultados.
E quando eu digo “dados”, não estou me referindo apenas a números. São informações, contextos, visão, interpretação de resultado.
Conheço pessoas brilhantes, que sabem exatamente como chegaram no resultado e não sabem fazer um cálculo no Excel.
Mas sabem analisar, entender e interpretar o processo corretamente.
Ao pensar na matriz, queira estar na zona da ação e certifique-se de se cercar de pessoas que também estejam lá.
Um dos piores conselhos que você pode receber é de alguém que não faz ideia de como chegou no resultado, mas tem vários achismos de como foi (e os vende como certeza).
E o perigo de entrar nesse cenário é que ele pode parecer eficaz num primeiro momento, mas é, na verdade, uma bomba-relógio.
No futuro, a falta de compreensão dos processos e resultados vai te cobrar um preço altíssimo: a incapacidade de sustentar o seu crescimento e a impossibilidade de explicar o seu fracasso.
Por outro lado, investir em conhecimento, em dados e na compreensão profunda do "porquê" por trás de cada resultado é sempre mais trabalhoso inicialmente, mas se paga dezenas de vezes mais no médio e longo prazo.
E, no longo prazo, acaba se tornando um caminho bem mais fácil.
Seu momento de refletir
- Em qual quadrante da matriz você se encontra hoje?
- Você sabe exatamente o motivo pelo qual seus últimos resultados (bons ou ruins) foram alcançados?
- Como pode melhorar seu processo e a sua clareza sobre os seus resultados?
Espero que tenha curtido o percurso de hoje.
Grande abraço e até a próxima milha,
César Mazzillo
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Dados no Cotidiano:
Vamos explorar os preocupantes dados sobre hábitos de crianças frente às telas e aos esportes (estou trazendo estatísticas dos Estados Unidos, pois elas são mais completas e precisas):
Tempo de tela: A média de tempo diário de tela para crianças entre 8 e 18 anos é de aproximadamente 7,5 horas por dia
Sedentarismo e obesidade em alta: Crianças que usam telas por 2 ou mais horas por dia têm 42% mais risco de sobrepeso ou obesidade
Atividade física em forte queda: Apenas entre 26% a 42% das crianças de 6 a 11 anos passam 60 minutos diários em atividade física moderada (como o futebol); entre adolescentes (12-17 anos), esse índice cai para 15%.
No próximo futebol do bairro, já tenho as estatísticas para trazer.
Vá uma milha a mais:
Nos últimos dias tive a oportunidade de receber vários conselhos sobre Newsletter do Henrique Carvalho (HC).
Ele é o exemplo de pessoa que se encontra na zona de inteligência nesse assunto. Me fez perguntas, analisou com detalhes a Extra Mile e trouxe pontuações relevantes que começarei a trazer aqui.
Além disso, ele tem uma Newsletter muito bacana, a Alquimia da Mente. Para quem quer ler belas reflexões e/ou busca criar a sua própria News, recomendo demais.
Você pode se inscrever aqui.