O invisível aos copiões...

é o segredo do sucesso dos copiados

“O tênis é um esporte de pernas, jogado com os braços.”

O esporte nos ensina muito sobre negócios, basta estarmos atentos.

Na última aula de tênis, depois de uma sequência de rebatidas seguidas, meu professor me chamou e disse: “Tu tá colocando a força só no braço, precisa colocar nas pernas.”

Fiquei surpreso, tinha sido a única sequência que eu tinha acertado todas as bolas, achei que tinha encontrado o tal do “timing” e sai com uma correção que que estava fazendo a base toda errada.

Aí ele me trouxe a lição: “Tu tá tentando copiar o movimento visível que tu deve ter visto na TV, mas se tu jogar assim, não vai dar 30-40 minutos e teu braço vai estar esgotado.”

Ele estava certo na primeira parte, tinha assistido uma série de jogos e prestado muito a atenção no movimento dos braços, o movimento que tem o destaque, que recebe a reprise, o movimento visível.

Mas não são os movimentos visíveis que ganham os jogos, são os invisíveis.

Falando de tênis, o que normalmente ganha destaque é “a direita do Nadal”, “o backhand do Djokovic”, “a consistência de golpes do Federer”, “a agressividade dos golpes da Iga”...

Mas ninguém dá destaque para o mais importante, aquilo que permite esses atletas terem esses resultados: o trabalho de pernas.

Da preparação para o ponto, quando o adversário bate na bola, até a sua rebatida, o que mais faz a diferença é o trabalho das pernas.

Pensar sobre isso me trouxe duas reflexões.

A primeira me levou ao meu tempo de criança, em que assistia aos jogos de futebol na TV e tentava copiar os movimentos na quadra perto de casa com meus amigos.

Quem nunca viu os dribles do Ronaldinho e tentou copiar? Ou se o seu esporte era outro, as jogadas do Jordan, Guga ou Giba (os atletas podem mudar dependendo da sua idade).

Nossa tendência é copiar o visível, o que temos acesso, mas não nos damos conta que aquilo é uma ínfima parte do trabalho.

A conclusão de meses ou anos de treino e preparação.

Algo muito, mas muito mais raro de ver é alguém copiando os treinos táticos do Cristiano Ronaldo, os treinos de força do Lebron ou os treinos de movimento de pernas do Federer.

E aqui está a grande distância de um atleta profissional para um amador.

E claro que faz parte, eles ganham a vida com isso, nós não.

Esse racional, porém, me levou à segunda reflexão.

Da mesma forma que isso acontece nos esportes, isso acontece nos negócios:

  • “Nossa, o Google colocou todo o time em home office, vou colocar também”;

  • “Fulano demitiu seu time comercial e trocou por IA e deu certo, vou fazer o mesmo”;

  • “Meu concorrente começou a dar desconto agressivo, vou fazer isso também”;

  • “Ciclano dobrou a meta esse ano e atingiu, também vou dobrar no próximo”.

A real é que as pessoas copiam o “como”, a “tática” sem entender o “porquê” e sem entender a preparação e a estratégia.

E da mesma forma que copiar apenas o movimento de braço no tênis vai te fazer cansar no meio do jogo, copiar apenas as táticas do seu concorrente ou de outros negócios vai fazer sua empresa cansar no meio do caminho.

Não copie sem antes entender, de fato, o que levou aquela empresa a fazer aquilo e como aquele movimento se conecta na estratégia como um todo.

A promoção do seu concorrente pode ser porque ele precisa de caixa, pode ser porque ele vai lançar um novo produto bem mais caro e quer ter mais base de clientes para vender ou pode ser por qualquer outra razão que está nos bastidores.

Sem você entender isso, fica à deriva ao copiar e, muito provavelmente, não vai chegar no mesmo resultado.

Talvez você até ganhe o jogo, mas dificilmente vai ganhar o campeonato.

Voltando ao movimento de pernas do tênis e às analogias que o esporte nos proporciona, temos muitos tipos de passadas para formar um bom jogo de pernas.

Quero dar destaque a três delas que fazem também sentido no mundo dos negócios.

O “Split Step” (também conhecido como “a passada de preparação”), o movimento fundamental do tênis.

Esse movimento nada mais é do que um pequeno salto no salto no lugar feito no exato momento em que o adversário toca na bola.

Ele serve para “zerar” o corpo, ativar reflexos e permitir prontidão de movimento.

Sem o Split, a reação fica mais lenta, porque o corpo está parado. Com o Split, você está pronto para ir em qualquer direção que o adversário jogar a bola.

Esse movimento nas empresas é a análise dos resultados e da situação atual.

Você fez uma ação. No momento que ela gera uma reação/resultado, a sua melhor forma de se preparar para o próximo “ataque” é entender como ela funcionou.

Não existe melhor preparação para uma empresa do que uma análise bem-feita, seja de números internos, seja de fatores externos.

No tênis, a falta do split te deixa lento e com menor capacidade para a fazer a resposta correta.

Nas empresas, sem a análise dos resultados, você fica cego e mais sujeito a tomar uma decisão errada.

As passadas de ajuste, ou a busca pelo melhor enquadramento.

Estes são pequenos passos curtos para chegar na distância correta da bola.

Você aproxima e calibra o seu corpo na melhor posição possível para dar o golpe.

Eles são como o “toque fino” depois da corrida. Mesmo que você chegue rápido na bola, sem os passos de ajuste, o golpe pode sair torto.

É claro que nem sempre eles são possíveis, mas quando são, aumentam muito sua chance de acerto.

Nosso paralelo com as empresas aqui é o processo de planejamento.

Aliás, assim como no tênis, nem sempre você consegue fazê-lo, às vezes tudo que lhe cabe é reagir à alguma situação.

Mas, sempre que for possível, esse processo vai, também, aumentar sua chance de acerto.

O grande ponto aqui é, por que eu iria fazer alguma ação sem antes ter feito a melhor preparação (Split Step) e me posicionar da forma que sei que é a melhor para mim?

O grande papel do planejamento não é acertar o que vai acontecer e sim preparar as melhores condições para o que você quer que aconteça.

Assim como no tênis, em que a falta das passadas de ajuste fazem o golpe sair torto, a falta de planejamento nas empresas faz as ações saírem de qualquer jeito (e tomar o mesmo ou mais esforço dos envolvidos).

A passada de recuperação, ou a passada que nos traz para a posição ideal.

Esse é o movimento de voltar ao centro da quadra depois de bater na bola. É o que mantém o atleta sempre preparado para o próximo golpe.

Essa passada muitas vezes representa a diferença entre você conseguir alcançar ou não o próximo golpe do adversário.

Em uma visão de negócios, essa passada é o alinhamento do seu time.

Coletar aprendizados, o que deu certo, o que deu errado, o que será mantido e o que vai mudar.

É dessa forma que se gera conhecimento para a empresa e para as pessoas e que se aumenta a chance de melhorar o próximo resultado.

Se você já parte para a próxima ação com o time desalinhado e “mal posicionado”, são grandes as chances de você ter problema de execução.

O Ciclo de Movimentações

Em resumo: o Split Step é o “botão de início” de qualquer ponto, as passadas de ajuste são a precisão e a passada de recuperação é o que mantém o ciclo constante de estar pronto para a próxima bola.

Análise, Planejamento e Aprendizado são os paralelos no negócio.

Quer começar a ganhar mais pontos? Ajuste o seu movimento de pernas.

Seu momento de refletir

- Qual das passadas está faltando no seu jogo?

- Será que você está copiando alguma tática sem entender a estratégia por trás?

Espero que tenha curtido o percurso de hoje.

Grande abraço e até a próxima milha,

César Mazzillo

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Dados no Cotidiano:

Preparação em quadra, falta de preparação financeira

De acordo com uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), 35% das pessoas com dívidas em atraso admitem que não fazem gestão dos próprios ganhos e gastos.

As principais razões da falta de controle orçamentário citadas pelos inadimplentes são: já ter feito e não achar que ajudou (18%), não ter disciplina para controle dos gastos (15%), falta de tempo (15%), acreditar que apenas a conta de cabeça funciona (15%) e não saber fazer (13%).

Em relação à educação financeira, 42% dos inadimplentes consideram seu conhecimento sobre administração do orçamento regular, 40% ótimo ou bom (não faz nenhum sentido!) e 17% ruim ou péssimo.

Para mim, a pior estatística é a seguinte: 53% dos inadimplentes admitem que gastam mais do que o orçamento permite e 40% se endividaram porque o prazer de comprar é maior do que seu controle financeiro.

Tá faltando muito “Split” financeiro no nosso Brasil...

Vá uma milha a mais: 

Seguindo no tema de tênis e preparação, o documentário da Netflix Break Point mostra como tenistas de elite dedicam horas a movimentos que não aparecem no placar, mas decidem jogos.

Embora seja voltado ao esporte, as lições para a parte profissional e pessoal são valiosíssimas.