Quer que eu tire uma foto?

Você não é apenas fruto das suas escolhas, mas também do solo onde essas escolhas brotam.

Autor Desconhecido

Essa foi a primeira ideia de News que tive, muito antes até dela ter nome ou qualquer vínculo com as corridas.

Pensei nela em agosto do ano passado enquanto visitava a Disney em Orlando.

Essa lembrança voltou a minha cabeça hoje, porque ontem visitei a DisneySea no Japão. Inclusive, escrevo esse texto logo após correr em volta da baía de Tokyo e contornar todo o espaço da Disney (apenas para manter você ciente que sigo escrevendo após as corridas).

Estava muito curioso de quais seriam as semelhanças e quais as diferenças.

Lembro que duas coisas me chamaram muito a atenção quando conheci a Disney nos Estados Unidos.

A primeira é que mesmo a pessoa mais mal-educada da face da terra é transformada em uma pessoa educada lá.

Mesmo com os parques lotados, filas gigantes e uma grade quantidade de pessoas, os visitantes tendem a ser gentis uns com os outros, manter os parques limpos e respeitar as regras.

E isso é uma especificidade da Disney por lá. Vá em outro parque ou em outro local da cidade e o comportamento do turista muda. Magia da Disney.

Eis que entramos no tema do nosso percurso de hoje. A importância do ambiente.

O segundo ponto que mais me chamou a atenção era a colaboração entre os turistas e moradores locais.

Especificamente o fato de ser muito comum quando uma pessoa via a Manu e eu tentando tirar uma selfie em frente a um lugar legal perguntar se queríamos que ela tirasse a foto para a gente.

Em pouquíssimo tempo, adotamos a mesma medida e saímos fotografando uma galera pelos parques.

Em um dado momento, uma turista francesa que tinha acabado de tirar nossa foto comentou “Eu não sei o que acontece nesse lugar que todo mundo fica mais gentil. Eu nunca me ofereceria para tirar a foto de ninguém na França, mas aqui é tão natural eu fazer isso!”.

Ambiente.

O terceiro passo do nosso percurso de transformar grandes ideias em realidade (decisão, busca pelo conhecimento, busca pelo ambiente correto e execução.)

O fato de a Disney ser reconhecida pelas suas experiências, atendimento e cordialidade (e executarem isso com maestria dentro de todas as suas áreas) faz com que todos (ou a grande maioria) das pessoas que estão inseridas naquele contexto façam o mesmo.

Todos saem ganhando.

E dominar esse conceito é fundamental.

O ambiente que você está (sua empresa, seu lar, os locais que você frequenta) vai ser componente fundamental da sua evolução.

Entramos na Disney em Tokyo, caminhamos um pouco, tiramos algumas fotos, ninguém nem olhou para nós. Em princípio, não tínhamos ligado “a” com “b”.

Por sinal, diferente de Orlando que é comum demais encontrar muitos estrangeiros de tudo que é canto, na Disney do Japão encontramos pouquíssimos estrangeiros.

Eis que avistamos um casal de japoneses tentando tirar uma selfie, prontamente a Manu se ofereceu para tirar a foto para eles.

A expressão nos rostos foi de espanto, quase como se estivéssemos anunciando um assalto no local mais seguro do mundo. A resposta foi um constrangido e surpreso “Sério?!”.

Ficamos sem entender a reação. Tiramos as fotos e seguimos o passeio.

Nos oferecemos mais duas ou três vezes para tirar fotos e a reação sempre igual: olhares de espanto seguido por risadas e no final um singelo “ok...” Quase como se tivessem aceitado que a gente tirasse a foto para eles nos agradarem. Não preciso nem dizer que paramos de oferecer.

O contraste foi tema de uma boa conversa para tentarmos entender.

A limpeza do parque era a mesma, a qualidade das atrações também, a educação da equipe também de ponta. Mas as pessoas eram reservadas, quase frias.

Entendemos depois de ler sobre o assunto que esse ponto é muito cultural do Japão. As pessoas são muito na delas, é muito raro pessoas puxando assunto umas com as outras.

Lá estávamos tentando tirar outra foto nossa e uma pessoa chega muito animada se oferecendo para tirar a foto para nós. Quando olhamos, a pessoa era da equipe da Disney.

A empresa conseguiu manter seu padrão de excelência dentro do que depende deles, mas não conseguiram levar isso adiante aos seus visitantes no Japão como conseguiu nos Estados Unidos.

Isso adiciona um segundo componente de ambiente: as pessoas que estão próximas a você.

Já é batido dizer que é muito difícil crescer ou prosperar se cercando de pessoas que não querem crescer e estão nem aí para nada.

Nas empresas, isso é ainda mais relevante, permita comportamentos ruins e logo a maioria da empresa se comportará dessa forma.

Você pode entrar na empresa mais criativa do mundo. Se você estiver em um time que não valoriza isso, a chance é que você experiencie pouco dessa criatividade.

Os locais corretos, com as pessoas corretas. Isso gera um ambiente propício para você transformar grandes projetos em realidade.

Como estou em contato com inúmeras empresas, acompanhando desde a tomada de decisão estratégica até a operacional, posso ver como isso se aplica à tomada de decisão baseada em dados.

Se em reuniões importantes, apenas uma pessoa leva seus argumentos estruturados com embasamento em dados, é muito possível que uma cultura de dados nunca se instaure.

Agora, se com o passar do tempo, mais pessoas forem embasando suas falas, trazendo dados e conhecimento para a discussão, tomando as decisões em cima do que eles apontam e colhendo resultado com isso, qualquer pessoa que tente sustentar argumentos no “achismo” se sentirá muito constrangida.

É o poder de criar o ambiente que você precisa para atingir seus objetivos.

Lembro da época que eu era responsável tanto pelo time de Marketing quanto pelo time Comercial do Clube do Valor.

Marketing e Comercial são times conhecidos por sempre estarem em guerra, um reclamando que o outro não está fazendo o seu trabalho da melhor forma.

Bom, isso acontece quando os alinhamentos e análises são feitos no achismo.

Coloque dados para alinhar os times junto com boas rotinas para as análises serem feita em conjunto e isso se resolve.

Nesse caso, criamos uma reunião semanal de acompanhamento de resultados e correção de rotas.

Mesmo tendo todas as informações em dashboards automáticos, eu pedia para os responsáveis preencherem seus números em uma planilha (que também continha as metas para cada indicador).

O objetivo era simples: fazer com que a pessoa tivesse que olhar os dados antes da reunião (nem que fosse para preencher a planilha) e fazer a pessoa trazer justificativas ou análises quando ela preenchia um número que estava muito abaixo ou até acima da meta.

Em pouco tempo, as divergências que existiam em cima de achismos sumiram e as discussões ficaram mais produtivas, em cima de indicadores concretos.

Claro que ainda seguiam visões sobre como o outro time poderia melhorar ainda mais os seus processos para aumentar o resultado geral, mas agora isso estava embasado em indicadores concretos.

O mais importante disso tudo é que se criou um ambiente propício ao time conseguir bater as metas (que eram bem desafiadoras na época).

Quando as pessoas perceberam que aquela forma contribuía muito para o resultado, tudo passou a ter embasamento e ajudou a cultura de dados a ser incorporada na empresa inteira.

Nossas metas e objetivos podem (e muitas vezes tem que) ser desafiadores, mas precisamos criar o ambiente para que eles sejam, de fato, alcançáveis.

É por isso que falo tanto de processos, dados, tomada de decisão, busca por conhecimento.

Sem isso, não vai.

É quase como a sua empresa decidir ficar saudável e esportista, mas comer fast-food todo dia e não treinar. O resultado será fruto do que você faz, não do que você quer.

Seu momento de refletir

- Os ambientes que você frequenta estão condizentes com os seus objetivos?

- Quais novos ambientes (ou pessoas) poderiam ajudar você com algum objetivo seu?

Me responde aqui no e-mail ou me manda no Instagram. Vou curtir saber.

Espero que você tenha curtido nosso percurso de hoje, no outro lado do mundo.

Grande abraço,

Mazzillo

Dados no Cotidiano

Uma coisa que me chamou a atenção é que quase ninguém no Japão fala inglês (passamos um perrengue legal). Achei interessante mostrar o país comparativamente a outros, relacionando número de turistas x população que fala inglês (a língua estrangeira mais comum)

País

Visitantes (milhões)

% População que fala inglês

Japão

24 milhões

13%

Brasil

6,6 milhões

5%

Alemanha

34,8 milhões

56%

Itália

68,5 milhões

34%

Espanha

85,1 milhões

22%

Isso coloca os países europeus como destinos mais fáceis para turistas ocidentais e mostra como o Brasil está atrás até mesmo de países que falam muito pouco idiomas estrangeiros.

Vá uma milha a mais

O livro “Nudge” traz uma visão bem interessante sobre como pequenas mudanças nos ambientes conseguem interferir muito no comportamento das pessoas neles inseridas. Vale a leitura!