Saia do Automático

e o ano que vem pela frente

Não há nada tão inútil quanto fazer com grande eficiência aquilo que nem deveria ser feito

Peter Drucker

Te falar uma coisa que dói admitir 2025 foi um ano bem abaixo do que eu esperava na corrida.

Fiquei abaixo das minhas metas. Ao invés de evoluir, eu piorei em todos meus números: distância, velocidade e capacidade cardiorespiratória.

E o mais curioso disso é que eu treinei praticamente o ano inteiro, mantendo a rotina de treinos de 3 a 4 vezes por semana.

Termino o ano quase atingindo a meta de quantidade de corridas feitas (meta de esforço) e completamente distante de todos os números que falei acima (meta de resultado).

Por outro lado, foi um ano melhor do que eu imaginava na evolução profissional.

Também bati quase na vírgula as metas de esforço na empresa, porém o resultado foi muito melhor do que na corrida.

Como posso ter tido tanto mais resultado em uma área do que em outra se em ambas eu estava “executando”?

Na corrida eu tive assiduidade, frequência e constância. Fiz o que “tinha que fazer”.
No trabalho, também. Entregas, projetos, decisões, correria.

Mas quando parei para olhar com calma, a diferença ficou óbvia.

Na corrida, eu estava numa área que eu já dominava. Eu já “sabia correr”. Já tinha repertório, já tinha referências do que funciona, já tinha feito isso em muitos outros anos.

Então eu abri a oportunidade para sofrer do fenômeno de entrar no automático: eu me dei o direito de só executar.

Fui correndo no melhor estilo Zeca Pagodinho, deixa a vida me levar... 

Sem revisitar o que eu vinha fazendo, sem olhar meu histórico com carinho, sem ajustar plano, sem acompanhar detalhes. Eu corria e pronto. E quando o resultado não vinha… eu só corria mais um pouco no próximo treino.

No trabalho, por outro lado, eu estava cercado de desafios novos e coisas que eu nunca tinha feito antes (como começar essa Newsletter).

E quando a gente entra num território novo, fica muito mais claro que devemos nos preparar.

Aí eu fiz o oposto do automático: procurei o que tinha de informações disponíveis para me auxiliar, planejei ações e projetos com mais detalhes, acompanhei de perto o resultado de cada uma daquelas ações, corrigi rotas e fui rodando o ciclo melhorado vez após a outra.

Em ambos os casos eu estava executando. 

Só que em um deles eu executava um ciclo inteiro de preparação, planejamento, acompanhamento e melhoria. No outro, eu tinha só a teimosia de fazer no automático.

E aqui entra a parte que interessa para a vida real.

O Ciclo da Magia

Eu chamo de Ciclo da Magia uma espécie de ciclo PDCA (Plan-Do-Check-Act) adaptado com quatro etapas simples que buscam dar qualidade e direção para a execução. 

Eu adapto o PDCA porque ele trabalha a execução em uma etapa apenas e, para mim, todas as 4 etapas deveriam ser consideradas execução:

1) Preparação

É a parte menos sexy e mais importante: juntar os dados do passado.

O que aconteceu? Qual foi a tendência? Onde você realmente ganhou? Onde você só se enganou?

Na corrida, isso é olhar volume, constância, pace, frequência cardíaca, descanso, lesões, terreno.

No trabalho, isso é olhar funil, CAC, conversão por canal, churn, margem, capacidade do time, gargalos.

Sem isso, você não planeja. Você, no máximo, apenas “deseja”.

2) Planejamento

Aqui você transforma dado em decisão. É a etapa que surge o direcionamento. 

Traçar metas, definir apostas, escolher restrições, priorizar...

É quando você decide: “Vou fazer menos coisas, com mais intenção”.

É quando você coloca objetivos tangíveis, metas e desenha os melhores caminhos para atingi-las.

3) Acompanhamento

A maioria das pessoas acha que acompanhar e metrificar os resultados é menos prioritário do que a “execução” em si. Não é.

Na prática, uma diminui completamente a chance de sucesso sem a outra.

Acompanhar é não esperar o fim do mês (ou de algum prazo) para descobrir que deu ruim.

É a validação diária, o relatório simples, o ritual curto, o “estamos dentro do previsto?”

Não basta escolher a montanha certa, o equipamento certo e entrar na rota certa, precisamos, acima de tudo, saber se seguimos no caminho correto E se aquele ainda é o melhor caminho.

Acompanhamento é o que impede o automático de virar piloto suicida.

4) Aprendizado

Aqui você fecha o ciclo: coleta o resultado e transforma em melhoria.

O objetivo não é provar que você estava certo. É ficar melhor na próxima rodada.

Você consegue ver que todas essas etapas são de execução?

Só que a gente foi educado a pensar que execução é só “mão na massa”.

A mentira de que só é trabalho quando dói

Na corrida, ninguém acha que planejar um treino é “correr”.

Ninguém acha que dormir bem é “treinar”.

Ninguém acha que ajustar alimentação é “executar performance”.

Mas todo mundo que melhora de verdade… faz isso.

A execução não acontece só na pista. Ela acontece na preparação do treino, na escolha do estímulo certo, no descanso, no acompanhamento do corpo, na correção de rota.

No trabalho é igual, só que a gente finge que não.

A gente acha que só está trabalhando quando está “colocando algo na rua”: campanha no ar, produto lançado, milhões de criativos e conteúdos gravados, ofertas rodando…

E por isso a gente negligencia o que dá sustentação para a “mão na massa”, olhar para o ciclo como um todo: planejar, refletir, olhar o dado com contexto, revisar o processo, aprender e ajustar.

No fim, fica aquele cenário clássico: muita ação, pouca direção.

E o pior, quando as coisas começam a não dar certo, o primeiro antídoto buscado é executar mais daquilo que já não está funcionando.

O criativo não funcionou? Grava mais 10.

A campanha não bateu a meta? Então mês que vem vamos fazer 2 campanhas para compensar.

E aí a pessoa até se sente produtiva, mas o resultado não acompanha e uma hora isso te leva a exaustão. Exaustão normalmente acompanhada de um lucro muito menor do que o esperado.

2026: se você executar no automático, vai dar ruim

Eu revisei muitos planejamentos de empresas esse mês. Participei de reuniões, revisei materiais e ajudei com informações.

Me assustou a quantidade de planos que buscavam replicar o que foi feito em 2025 no próximo ano. Mesmas datas, mesmas ações (porém esperando um resultado melhor).  

E é aí que mora o perigo.

2026 não está se desenhando para ser uma sequência melhorada de 2025. Tem duas distrações gigantes no radar:

  • Copa do Mundo (11/06 a 19/07)

  • Eleições no Brasil (1º turno em 04/10, 2º turno em 25/10)

Isso muda atenção, muda conversa, muda humor social, muda consumo de conteúdo, muda janela de campanhas, muda timing de decisão, muda tudo.

Ignorar contexto é a forma mais elegante de planejar o fracasso.

E não é sobre “prever o futuro”. É sobre não ser pego de surpresa pelo óbvio.

Você pode pensar que isso mostra que 2026 vai ser pior, mas isso na verdade depende de você.

A grande maioria das pessoas e empresas não vai se preparar direito. Isso é oportunidade, basta você se preparar.

Se você quer uma forma prática de sair do automático, use essa lógica simples:

  1. Pegue seus dados de 2025 e responda: “O que de fato funcionou?”

  2. Escolha 3 apostas (não 12) que você quer melhorar em 2026

  3. Defina como você vai acompanhar (ritual semanal ou quinzenal, etc...)

  4. Combine desde já o que significa aprender: Qual métrica muda sua decisão?

Porque o ano que vem vai passar do mesmo jeito.

A pergunta é:

Você vai entrar em 2026 comandando o volante ou no piloto automático rumo a um muro gigante?

Além de te desejar um feliz 2026, desejo que você esteja no comando do volante

Seu momento de refletir

- Onde você está “executando muito” e melhorando pouco?

- Que parte do seu trabalho você trata como “óbvia demais”, e por isso faz no automático?

- Qual acompanhamento simples evitaria 80% das suas surpresas?

Espero que tenha curtido o percurso de hoje.

Grande abraço e até a próxima milha,

César Mazzillo

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Dados no Cotidiano

As famosas metas de ano novo.

Chega nessa época do ano e começamos a pensar no que vamos fazer para o ano que vem, hábitos a mudar e desenvolver, desafios para uma vida mais saudável, etc...

Mas como será o desempenho das pessoas em executar e acompanhar suas metas?

Segundo pesquisas da PLOS, as metas duram muito pouco e é a grande minoria das pessoas que consegue mantê-las por mais de um ano.

O estudo acompanhou pessoas e suas metas de ano novo por 2 anos e mostrou que:

- 77% mantiveram a promessa por 1 semana,

- 55% mantiveram a promessa por 1 mês,

- 43% por 3 meses,

- 40% por 6 meses e

- apenas 19% por 2 anos.

Em qual grupo você vai estar no próximo ano?

Vá uma milha a mais

Gostou do conceito e quer aplicar o Ciclo da Magia em alguma área?

Preparei um template guiado para você começar a colocar em prática já hoje e começar o próximo ano com tudo!