- The Extra Mile
- Posts
- Sobre marketeiros e pássaros
Sobre marketeiros e pássaros
Qual você quer na sua empresa?
Aqueles que voam alto têm sempre que enfrentar ventos mais fortes.
O segundo semestre do ano é sempre mais intenso, ainda mais se você trabalha com algo vinculado ao marketing.
Some o cansaço acumulado por boa parte das pessoas ao tempo mais curto para fechar as metas anuais com um adicional da Black Friday, a campanha mais importante do ano para maioria das empresas, batendo na porta.
Os nervos ficam à flor da pele.
E conforme isso acontece, reuniões ficam mais tensas, reações mais rápidas, processos vão para o segundo plano e a chance de errar aumenta.
Nas últimas duas semanas tive dois momentos decisivos com pessoas das quais estava analisando os dados.
Dois momentos em que não consegui fazê-los enxergar o que estava na frente deles: suas empresas estão morrendo e eles se recusam a aceitar.
A primeira lição que tirei disso foi que preciso melhorar ainda mais minha capacidade de comunicação e de compreensão das pessoas.
Os dados eu tinha, eles eram mais claros que o sol, mas não foram suficientes para fazê-los abrir os olhos.
A segunda lição é que, às vezes, não adianta tentar ajudar quem não quer escutar. A forma de aprendizado dessas pessoas precisará ser outra, possivelmente mais dolorosa.
Além das lições que a situação me trouxe, ela também traz esse texto até você.
A verdade é que pessoas que trabalham com marketing e alguns pássaros têm comportamentos muito similares. Engraçado pensar nisso.
Os personagens dessa história se comportaram, respectivamente, como um avestruz e como uma pomba.
O primeiro enterrou a cabeça na terra no primeiro sinal de perigo. O segundo, cagou na mesa e saiu voando quando os números não mostraram o que ele queria.
Vamos avaliar o comportamento dos marketeiros pássaros.
O Marketeiro Avestruz
Diz-se a lenda (e não passa de um mito mesmo) que um avestruz quando se sente ameaçado enterra a cabeça na terra esperando que o perigo desapareça (afinal, o que os olhos não veem o coração não sente).
O pássaro, no entanto, fica parado.
O Marketeiro Avestruz ignora tudo que passa à sua volta. Ele não pode ficar parado, porém. Então, fica fazendo mais do mesmo e andando em círculos com a cabeça enterrada.
O maior sintoma do Marketeiro Avestruz é que ele não consegue enxergar que a realidade mudou. Repetem as mesmas estratégias que não funcionam a tempo, mas seguem esperando o resultado de outrora ou até um resultado melhor.
A cada campanha que passa, o resultado fica pior. A solução, na cabeça deles, é fazer mais (do mesmo).
No caso da pessoa em questão, falei que eles precisavam parar e repensar a estrutura das campanhas: o público estava errado, investimento mal dimensionado, criativos desgastados.
Mas, segundo ele, isso era impossível, porque já tinham que planejar a próxima campanha, que pela proximidade, teria que ser igual a anterior (que não funcionou).
Segundo ele ainda, não tinha como aquela campanha não ser feita, porque precisavam bater a meta de faturamento do mês. E não conseguia enxergar que a cada campanha feita, o faturamento até aumentava, mas o prejuízo na linha final aumentava mais.
Se você se deparar com um Marketeiro Avestruz, ajude-o a tirar a cabeça da terra, mas saiba que, se ele não quiser, não tem o que você faça para ele mudar de ideia.
O Marketeiro Pomba
Você já deve ter ouvido a expressão que certas discussões são como “jogar xadrez com pomba”: ela vai derrubar as peças, cagar no tabuleiro e sair voando como se tivesse vencido.
Nosso marketeiro pomba age de forma semelhante. Ele não quer raciocinar, ele não quer debater, ele quer apenas “cagar regra” e cantar vitória.
O grande problema aqui é que, na maioria das vezes, ele entende tanto de marketing quanto uma pomba entende de xadrez.
E assim como a pomba, quando você traz uma explicação lógica, mostra os fatos e dados e prova que ele está errado, ele te xinga, diz que aquilo não serve para nada e vai embora se sentindo vencedor.
Esse foi rigorosamente o caso que aconteceu no debate com o segundo personagem. Os dados eram duros, a situação não estava boa, mas ainda tinha o que ser feito.
O caminho, porém, desagradava. Então, atacou-se o dado (como se ele tivesse algum tipo de sentimento a ser ferido) para ignorar a realidade e foi dito que aquilo não servia para nada, afinal, não apontava para o mesmo caminho que ele queria ir.
Novamente, não tem como ajudar quem acha que já sabe tudo e quem não quer ser ajudado.
Aliás, se você se deparar com um Marketeiro Pomba, fuja. Do contrário você pode tomar uma cagada na cabeça...
O Marketeiro Papagaio
Vídeos de papagaios falando coisas engraçadas já foram uma das maiores hypes da internet.
Agora, você já parou para pensar que o papagaio não faz ideia do que está falando?
Para ele falar um palavrão, cantar um hino ou imitar alguma celebridade é apenas um exercício de espelho de alguém que o treinou.
O Marketeiro Papagaio é muito similar. Ele escuta algo que alguém falou e sem antes nem raciocinar sai ou repassando aquela “verdade” ou aplicando diretamente na sua empresa sem nem entender o contexto.
Essa espécie é uma das grandes responsáveis pela disseminação de um monte de porcaria no marketing.
Afinal, assim como as aves, tem muita gente que acha os Marketeiros Papagaios engraçados ou interessantes e lhes dão audiência.
Reconhecer um papagaio é fácil, um Marketeiro Papagaio também.
Basta ouvir o que ele falou e perguntar “Ah é, por quê? Me explica em detalhes como isso funciona no meu contexto”.
Se tudo que ele conseguir falar são mais palavras prontas, você está diante de uma das espécies em maior crescimento no mundo do marketing.
Quando se deparar com um, tente ensiná-lo alguma coisa útil, vá que ele também saia replicando isso.
O Marketeiro Coruja
Embora as corujas (as aves) não sejam tão difíceis de encontrar, o Marketeiro Coruja é uma espécie bem mais rara.
Primeiro, ela é bastante reservada e silenciosa. Não é nada comum que você as veja se misturando com outras “aves” por muito tempo.
Afinal, além de ele estar muito mais preocupado em fazer do que falar, a discrição é um valor dele.
Ele observa os movimentos do mercado, entende os motivos e busca sempre ver além do óbvio antes de fazer o próximo movimento. Com isso, vai ganhando sabedoria.
É interessante que, não necessariamente, ele vai ter os maiores resultados. Aliás, é muito raro que tenha.
Seu excesso de racional analítico e observação o impede de agir em algumas ocasiões e ser veloz em outras.
Se você se deparar com um, converse com ele!
Mas saiba que, assim como a ave que é símbolo de sabedoria na mitologia grega e acompanhava os sábios e estrategistas, os Marketeiros Corujas apreciam quem tem conteúdo e apreço real pelo aprendizado.
O Marketeiro Águia
O topo da cadeia do marketing, os formadores de mercado e de tendências.
O Marketeiro Águia observa tudo de cima. Afinal, ele é um dos poucos que consegue chegar tão alto para ter uma visão mais nítida do que acontece.
Enquanto os demais pássaros tem apenas a possibilidade da visão próxima ao chão, a águia consegue tanto enxergar o todo, quanto, inclusive, enxergar com muito mais precisão o que uma pomba está olhando a 2 metros de distância (mesmo estando mais de 300 metros acima do chão).
Com um instinto bastante calibrado e força suficiente para se adaptar em situações adversas, ele tem a clareza do quando atacar, quando voar mais alto e quando descansar em cima da montanha.
Ahh, se você se deparar com um, bom, tente sua sorte na interação.
Diferente da águia que pode te atacar e te machucar, o máximo que pode acontecer com o Marketeiro Águia é ele te vender algo (possivelmente bem caro) e você querer comprar.
--
O pássaro nasce e morre da mesma espécie, o marketeiro pode evoluir. Essa é a evolução que te torna ou presa ou predador.
E, dado que estamos falando de pássaros, lembre-se: “Aqueles que voam alto têm sempre que enfrentar ventos mais fortes.”
PS: o texto é sobre marketeiros, mas cabe em muitas outras profissões...
PS2: Não entenda predador como alguém que quer matar o outro e sim como alguém que lidera a cadeia de negócios que está inserido.
Seu momento de refletir
- Seu time (ou você mesmo) tem agido como qual espécie acima?
- Quais características você precisa desenvolver para virar um “predador”?
Espero que tenha curtido o percurso de hoje.
Grande abraço e até a próxima milha,
César Mazzillo
Como você avalia essa edição da Extra Mile?Esse feedback me ajuda a melhorar cada vez mais o conteúdo |
Faça Login ou Inscrever-se para participar de pesquisas. |
Dados no Cotidiano
Esse texto foi inspirado no conceito de Biomimética, um campo que estuda como a natureza resolve problemas e busca aplicar esses princípios em soluções humanas.
Aqui estão 3 exemplos famosos de biomimética e seu impacto numérico nos negócios e em nosso dia a dia.
Velcro inspirado nos carrapichos: O suíço Georges de Mestral observou como sementes de carrapicho grudavam nos pelos de seu cachorro. Esse insight levou à criação do Velcro, patenteado em 1955.
Resultado: o mercado global de fechos de contato (Velcro e similares) movimenta mais de US$ 2 bilhões/ano.
Trens-bala do Japão e o martim-pescador: o trem-bala japonês Shinkansen tinha problemas de ruído ao sair de túneis. A solução veio do bico aerodinâmico do martim-pescador.
Resultado: redução de 30% no consumo de energia e aumento de 10% na velocidade máxima, chegando a 320 km/h.
Tubarões e tecidos antimicrobianos: A pele de tubarão tem micro escamas que evitam que microrganismos se fixem. Isso inspirou materiais hospitalares e roupas de natação.
Resultado: hospitais que adotaram superfícies com essa te
Vá uma milha a mais
Esse livro eu só consegui parar de ler porque ele acabou. Embora seja um livro de fantasia aos leitores mais apressados, ele pode trazer muitas lições de vida e negócios para os mais atentos.
Vejo que não podia ser diferente conhecendo quem o escreveu. O JP Resende, co-fundador e CEO da Hotmart, além de construir uma empresa incrível, ainda passou os últimos 10 anos escrevendo o primeiro volume de “Entre Ruinas e Reinos”. Recomendo fortemente a leitura.