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Uma história pode mudar tudo
Histórias criam relacionamentos. Relacionamentos são mantidos por confiança. Confiança gera receita
Se eu te pedir para pensar na Arábia Saudita, o que vêm à sua cabeça?
Em uma busca rápida no ChatGPT e Google, os temas que surgiram foram: petróleo e riqueza, leis e costumes religiosos rígidos, restrição ao direito das mulheres, restrição à liberdade de expressão, associações com terrorismo e influência política.
Achei fantástica, porém, uma ressalva que ele fez (e era meu objetivo te contar aqui): “ Alguns desses temas, principalmente em públicos menos informados, são resultado de associações incorretas e narrativas reforçadas após o 11 de setembro”.
As verdades que construímos na nossa cabeça são influenciadas diretamente pela quantidade (e qualidade) de informação e conhecimento que temos disponível.
As duas vezes que viajei para o oriente (Dubai e agora Japão), vi cenários muito diferentes do que estamos acostumados a ler “deste lado do mundo”.
Nosso percurso de hoje vai diretamente neste tema: o poder das histórias.
A Arábia Saudita irá sediar a próxima Expo em 2030.
Um fato que desanimou bastante a Manu e eu dada a nossa visão (limitada) sobre como seria uma viagem para lá (e todos os perigos e receios associados).
Era um dos pavilhões que mais tínhamos vontade de visitar para ver o que eles iriam apresentar (e para ver se nossa visão mudaria).
O que vimos foi um show.
Iniciativas inovadoras de energia verde, construção de cidades sustentáveis, projetos para abrir a economia e a cultura (intitulado projeto Vision 2030).
Cada um dos pontos que tínhamos pré-concebidos na nossa cabeça foram sendo atacados um a um e parcialmente mudados.
O que vimos foi um país que quer trazer parte do mundo para conhecê-lo, um país que parece estar se esforçando para flexibilizar e deixar costumes “antiquados” mais modernos.
Pode ser só história, mas foi muito bem contada.
Parece que quem montou aquela apresentação pegou cada uma das visões negativas que o mundo tem sobre o país e encontrou a melhor prova prática para derrubá-las.
Entramos com a certeza de que pularíamos uma Expo. Saímos com uma curiosidade muito grande de conhecer mais um país do mundo árabe.
Saímos também com uma leve pulga atrás da orelha: será que realmente eles tentaram combater o que falam sobre eles ou simplesmente mostraram o que eles são e a gente que estava mal-informado?
Isso me fez lembrar da vez que conhecemos Dubai. Tínhamos vários receios, curiosidades e expectativas causadas por histórias.
Os receios se mostraram errôneos, as expectativas foram mais do que superadas e as curiosidades (e nossa vontade de voltar) só aumentaram.
Aqui está a maior lição para mim e para você, empreendedor ou profissional: Boas histórias criam oportunidades. Verdadeiras histórias com excelentes produtos/experiências/entregas criam impérios.
Uma boa história pode até te gerar um cliente, mas é apenas com um bom produto que você consegue vender para ele uma segunda, terceira, quarta vez...
Visitamos exposições de muitos países na feira e quero trazer para você aqui as melhores e piores histórias que vimos e como isso pode servir de conhecimento para você ou para a sua empresa:
1 – O absolutamente triste show da Ucrânia
“Não estamos à venda.”
Esse era o (brilhante e repleto de jogos de palavras) título da exposição ucraniana.
Um espaço minúsculo, no canto de um pavilhão cheio de pequenos países.
Sem dúvida alguma, a exposição mais impactante da Expo.
No pequeno espaço, ambientado como se fossem balcões de loja, você podia pegar um scanner como os usados em caixas de supermercado e “escanear” o código de barras de itens que estavam ali para representar situações.
Megafones representavam a perda de liberdade de expressão. Livros representavam a perda da tranquilidade de ir à escola das crianças ucranianas.
No momento em que você escaneava o item, um vídeo surgia trazendo fatos, estatísticas e histórias da guerra sobre aquele assunto.
A expressão das pessoas era de extremo incômodo, de uma tristeza gigante.
Ao final dos vídeos, uma pequena quebra de roteiro mostrava que os ucranianos, mesmo passando pela situação mais adversa possível, não renunciariam aos seus valores e à sua identidade. Eles não estavam à venda.
A exposição ensinou a como mexer em todos os modelos de pensamento, do emocional ao racional.
Histórias reais, mostrando fatos e estatísticas sobre o horror que está acontecendo naquela terra ajudavam a gerar consciência e informação para o mundo inteiro.
Uma aula de como, mesmo em uma situação extremamente adversa, a criatividade e as histórias podem trazer visão e consciência para o público.
2 – Inteligência Artificial, uma teoria ou uma revolução concreta?
Junto do tema energia limpa e sustentável, a IA dominou as apresentações do evento.
Mas diferente dos protótipos e modelos reais que vimos na parte de energia, a IA ficou só na teoria.
Muitos países dizendo que usam, que fazem acontecer, que estão revolucionando tudo com IA.
Ninguém mostrou nada.
E vamos combinar, IA é algo que gera resultados concretos.
O que aparentava era que todos os países tinham consciência do que era possível, mas nenhum sabia de fato como fazer.
E a lição aqui é bem clara: mostrar resultado tem muito mais impacto do que mostrar apenas o potencial do resultado.
Se você tem produtos ou serviços que geram valor, se preocupe em mostrar esse valor gerado e como ele foi gerado.
Mostre que você sabe fazer e os resultados que gera com isso.
De teoria, os “ppts” estão cheios...
3 – O retrocesso de Singapura
A exposição de Singapura em Dubai foi surreal. Você subia em uma espécie de drone gigante e era levado (com telas imersivas) ao futuro de Singapura nas áreas de saúde, mobilidade e educação ano após ano.
Saímos encantados com aquele pequeno país.
Fomos cheios de expectativas para o pavilhão. O que será que avançou? Será que vamos ver na prática coisas que eles prometeram estar prontas em 2025?
O que vimos foi uma desconexão. Se aquilo fosse uma redação do ENEM, ela seria desclassificada por fuga do tema.
Uma exposição abstrata, que mal falava dos projetos e evoluções do país. Aquele podia ser o pavilhão de qualquer coisa, dada a falta de identidade.
E aqui temos uma lição fundamental: se você começou uma história de forma impactante, mantenha o tom e pense na continuidade ou você vai quebrar totalmente a expectativa das pessoas.
As pessoas têm memória (por mais que às vezes não pareça). Se você prometeu algo, precisa atualizar os envolvidos da evolução.
4 – O aceno ao Japão
Pavilhões como os da Espanha, Portugal, Suíça (e até mesmo o Brasil) entenderam uma coisa: quem seria o público-alvo principal.
Quando no Japão, fale para os japoneses, afinal 20% da população (aproximadamente) irá visitar a feira.
Nos pavilhões europeus citados, sempre a primeira sala era dedicada a contar qual a relação que o país tinha com o Japão, normalmente enaltecendo a cultura japonesa e mostrando como era próspera a relação comercial e cultural entre os países (o Brasil também fez isso, mas em uma sala no fundo da exposição).
Resultado: muitas fotos, anotações e comentários (dos quais não entendemos uma vírgula) entre os japoneses.
Resultado 2: muitos japoneses comprando nas lojas desses pavilhões (menos na do Brasil, que não tinha loja), bem mais do que observamos em outros.
A lição aqui é bem clara: se você vai estar diante de um público com uma característica em comum (no caso, a nacionalidade), precisa trazer isso à tona, precisa mostrar que você de fato se preocupa com aquelas pessoas.
Ponto para os europeus.
5 – O contraste de países mais ou menos conhecidos
Os pavilhões que mais nos surpreenderam foram de pequenos países europeus ou de países asiáticos (em geral do oriente médio ou próximos ao Japão).
As maiores decepções se deram por países bastante famosos, como EUA, Canadá, Alemanha, Bélgica e Itália.
Claro que tenho que ser justo, é mais fácil eu me impressionar com alguma curiosidade da Estônia, que conheço muito pouco, do que com os Estados Unidos, do qual lemos notícias diariamente.
Mas a diferença foi a quantidade de conhecimento e curiosidade que eles conseguiram agregar dentro da sua exposição e, principalmente, o teor do conteúdo.
A Estônia e a Armênia apresentaram projetos revolucionários na área de educação (básica e superior) e incentivos e programas muito interessantes para empresas de tecnologia.
Os Estados Unidos, a Bélgica e o Canadá, com pavilhões muito maiores, se preocuparam mais em fazer uma apresentação de autopromoção. A Bélgica conseguiu chegar numa frase ímpar: “A Bélgica salva vidas do mundo inteiro”, em uma apresentação sobre vacinas.
Não estou questionando o fato (que, por sinal, é verdade), mas como ele foi contado.
E aqui está a grande lição: se eu quero que as pessoas tenham visões positivas sobre mim ou sobre o meu produto, eu conquisto isso com argumentos e fatos, não apenas com afirmações de autopromoção.
Aquela velha história: se você precisa afirmar que você é, talvez você não seja.
Após esses pontos, para mim fica cada vez mais clara a importância de buscar conhecimento na origem, viajar, conhecer diferentes culturas.
Isso ajuda a reduzir nossa “ignorância” sobre muitos assuntos e mudar nossa (enviesada) visão de outros.
Seu momento de refletir
- Como você está contando a sua história ou a história da sua empresa?
- Você tem um “produto” digno da história que conta? Ou uma história digna do “produto” que tem
Espero que tenha curtido o percurso!
Até a próxima milha,
Mazzillo
Dados no Cotidiano
Uma pesquisa de 2015 feita por uma empresa inglesa chamada Headstream apontou que 15% das pessoas, ao ouvir a história de uma empresa que elas amaram, imediatamente comprariam algum produto daquela empresa.
Isso mostra como uma boa história consegue mexer no processo de tomada de decisão das pessoas, tirando-as do polo racional-intuitivo e levando-as para o polo emocional-impulsivo.
Além disso, o mesmo estudo mostrou que:
30% começariam a seguir a marca imediatamente nas redes sociais;
44% das pessoas compartilhariam a história com amigos e conhecidos e;
53% das pessoas considerariam comprar daquela marca no futuro
PS: os números não fecham 100%, porque as pessoas podiam marcar mais de uma opção.
Talvez essa seja uma prova estatística do poder de uma boa história.
Vá uma milha a mais
O poder de contar histórias surgiu para mim nesse livro de Carmine Gallo: Storytelling. É um ótimo começo para quem quiser se aprofundar mais sobre o assunto