- The Extra Mile
- Posts
- Uma viagem até 2040 – Especial Expo 2025
Uma viagem até 2040 – Especial Expo 2025
Não seria fantástico se existisse uma exposição mundial na qual cada país leva o que tem de melhor e o que está construindo para o futuro?
Pois esse evento existe e se chama EXPO.
Ele existe desde 1851 e acontece, hoje, há cada 5 anos em algum lugar do mundo.
Caso você nunca tenha ouvido falar, saiba que se fala quase nada dele aqui no Brasil e em países tidos como “subdesenvolvidos”, infelizmente.
Conheci a Expo na edição passada (2021) em Dubai e achei o conceito tão legal que combinei com a Manu de tentarmos ir em todas as edições daqui para frente.
Para você ter uma ideia do impacto desse evento e das inovações que ele apresentou ao mundo, essas são algumas das inovações e construções apresentadas em uma Expo:
Torre Eiffel – Expo de 1889 em Paris
Telefone – Expo de 1876 na Filadélfia
Elevador – Expo de 1853 em Nova York
Roda Gigante – Expo 1893 em Chicago
Televisão – Expo 1939 em Nova York
Tecnologia Touchscreen – Expo 1982 em Knoxville
Isso para só citar alguns mais antigos.
O que eu mais gostei do evento de Dubai e que me motivou a tentar ir às próximas é que ela realmente faz as pessoas abrirem a cabeça.
Além de conhecer muitas culturas diferentes nas exposições dos países, ver o que grandes empresas e nações estão pensando para o futuro é sem dúvida um conhecimento válido.
A Expo de 2025 está acontecendo agora em Osaka no Japão (foi um dos grandes motivos de termos ido para o outro lado do mundo).
Quero aproveitar essa (e a próxima) News para te trazer uma visão das coisas que mais me chamaram a atenção em duas categorias: inovações que podem mudar nosso futuro e percepções que podemos aplicar nas nossas empresas e carreiras.
Vai ser um formato diferente, mas acho bastante válido compartilhar esse conhecimento com você (depois me conte o que achou).
Vou focar essa news para falar de inovações.
Deu para notar uma preocupação muito grande do Japão e demais países asiáticos com a questão de emissão de CO2 e de novos tipos de energia.
Além disso, a questão de saúde e transportes também foi bem explorada por esses países, somando-se alguns países europeus.
O que mais me chamou a atenção:
1. Um Futuro Movido a Hidrogênio e Combustão de Amônia
Além de muitos projetos apresentados sobre como esse tipo de energia pode reduzir imensamente a emissão de carbono (nenhum dos dois emite carbono na combustão), o Japão conseguiu dar exemplos práticos dentro da própria Expo.
Todos os ônibus da exposição (era o principal meio de transporte) e partes inteiras da exposição (toda parte de vendas e lojas) já era abastecida por hidrogênio, tornando a exposição praticamente carbono neutra.
Isso tem muitos níveis de importância.
Além de permitir construções diferentes a nível de transporte e mobilidade urbana, isso pode redefinir a cadeia de abastecimento mundial, impactando diretamente países que tem parte relevante do seu PIB com exportação de energia (alô, Brasil!).
Dentro disso, vai um destaque para o projeto “NEOM” da Arábia Saudita, uma cidade futurista que vai abastecer parte da Ásia com hidrogênio verde.

Protótipo Projeto Neom
Perceba que hoje a Arábia Saudita é o maior exportador de petróleo do mundo e já está bem-posicionada para ser um dos maiores exportadores de energia limpa também.
Antecipação. Movimento extremamente estratégico feito pelos árabes que estão financiando a construção do futuro com a receita gerada no presente, uma aula de planejamento.
2. Concreto com Fotossíntese Artificial
Esse aqui é realmente revolucionário.
É uma nova geração de concreto que captura CO₂ diretamente da atmosfera — funcionando como se fosse uma "árvore urbana" em forma de prédio.
Ele é criado incorporando-se microalgas fotossintéticas ao concreto e permitindo que as construções já capturem parte do carbono emitido.
Embora ainda esteja em fase experimental, já existem protótipos funcionais no Japão e Espanha que conseguiram reduzir de 10 a 20% as emissões de carbono.
Existiam muitas exposições dedicadas a esse tema lá, dado que é uma grande aposta do Japão para o futuro (a meta deles é que até 2030, 30% das novas construções já usem esse tipo de tecnologia).
O impacto que isso traz é ao mesmo tempo fantástico e preocupante dependendo de como o projeto avançar.
Um dos objetivos dessa tecnologia é diminuir a necessidade de “áreas verdes” nas cidades, como parques e grandes jardins, o que permitirá novas áreas nobres para a construção civil sem o impacto climático direto.
Eu vejo que parques e jardins têm muito mais funções do que apenas realizar fotossíntese, espero que eles também pensem assim.
Por outro lado, isso pode mudar completamente a construção (e reconstrução) de cidades no futuro, aumentando muito a qualidade de vida da população dada a redução de poluição.
3. Os novos projetos de transporte da Kawasaki: Alice e Corleo.
Vou começar com o Corleo, algo que achei muito legal, embora tenha dúvidas se vai chegar a ser utilizado em larga escala
O Corleo é um veículo robótico em formato de leão construído para permitir que a gente explore de uma forma completamente nova terrenos off-road, montanhas e fazendas.
Ele ainda é um projeto conceitual (fiquei com a impressão de levarem para a feira para ganhar publicidade – o que é extremamente válido), mas pode gerar impactos bem relevantes no uso de animais no campo e no desenvolvimento de hobbies.
É claro que ele pode ter aplicações extremamente úteis, como resgate de pessoas em terrenos complicado e facilitação logística em lugares remotos e de difícil acesso, mas me parece que vai ser muito mais um “brinquedo” para quem curte explorar.

Simulação Corleo
Já a ALICE, um acrônimo para Advanced Land Integrated Collective Exploration, tem poder, a meu ver, de revolucionar completamente o mundo dos transportes como conhecemos hoje.
A apresentação é bem impactante, mostrando uma integração total entre diferentes tipos de transporte, como carros autônomos, trens bala, navios e aviões movidos a hidrogênio (olha o hidrogênio aí).
A grande inovação é que o “carro” é na verdade uma cápsula que pode se acoplar a diferentes tipos de transporte de forma automática.
Então, você sai da sua casa na sua cápsula e ela automaticamente calcula o melhor meio de transporte para chegar ao destino (seja o seu trabalho ou um país que você vai passar férias a milhares de km de distância).
Essa cápsula então se pluga em um trem, navio, avião e te leva ao local sem que você tenha que sair da sua cápsula.

Meios de transporte do ALICE
Além de reduzir absurdamente o tempo e a burocracia de alguns tipos de transporte, esse sistema ainda permite uma otimização absurda da rede de transportes, exigindo menos veículos e menos construções de estradas.
A simulação da Kawasaki é que o sistema poderia reduzir em até 40% a necessidade de construção de novas estradas ou linhas férreas, dado o potencial de integração entre diferentes sistemas de transporte.
Embora essa ideia pareça bem distante (meu primeiro pensamento foi que dificilmente eu veria isso funcionando), o sistema já está em fase de protótipo para rodar experimentalmente em 2026 no Japão.
Detalhe: 100% dos tipos de veículo movidos a hidrogênio ou amônia, então além do impacto positivo na logística, teríamos um impacto bem relevante nas emissões geradas pelos meios de transporte atuais.
4. “Médicos” sem sair de casa e sensores internos de diagnóstico.
Os relógios e anéis inteligentes já melhoraram muito a visualização de alguns importantes sinais vitais.
Agora, imagine sensores implantáveis que permitem o monitoramento contínuo da sua saúde, órgãos, funções digestivas e renais e até quando você bebeu demais ou comeu um pouco mais de gordura do que devia.
Esses sensores, são integrados com centros de medicina movidos por Inteligência Artificial e permitem você “chamar” um médico holograma na sua sala de casa.
Ele já tem automaticamente todos seus sinais vitais, seu comportamento e todo eventual problema que possa estar acontecendo em você para lhe dar o diagnóstico e o tratamento (que chega via drone na sua janela).
Esse é o resumo do vídeo que apresentou a nova tecnologia de medicina baseada em sensores internos e inteligência artificial.
As aplicações são simplesmente incríveis e podem melhorar (e muito!) a prevenção e tratamento de doenças crônicas, sem falar da personalização do tratamento, que pode ser retroalimentado pela inteligência dos sensores (ou seja, se remédio X ou prática Y não resultaram no efeito esperado, a IA sabe disso em questão de minutos e já pode reprogramar o tratamento).
Some isso ao fato de não precisar se deslocar para ir ao médico ou fazer alguns tipos de exames e temos uma revolução completa nas estruturas de saúde (hospitais podem mudar de função, médicos passam a focar muito mais em pesquisa do que em atender pacientes, etc...).
5. O uso de microrganismos para geração de energia.
Sem dúvida, as aplicações que mais chamam a atenção são as que já estão em funcionamento (e a gente nem sabia que existia).
O Japão deu um show nessa parte no seu pavilhão.
A apresentação principal mostrava o uso de microrganismos para decompor resíduos orgânicos e transformar em energia limpa.
E eles mostraram na prática. Todo lixo gerado no evento ia para um tanque de processamento com microrganismos e gerava biogás que sustentava o pavilhão inteiro do Japão.
E o melhor, podíamos ver isso acontecendo ao vivo dentro do pavilhão (em pequena escala, é claro).
O pavilhão do Japão era o maior da Expo, com mais de 500m2 e recebia cerca de 30 mil visitantes por dia. E você só descobria ao longo do tour que todo aquele pavilhão estava sendo energizado pelo lixo que você mesmo gerava dentro da exposição.
Foi sem dúvida, uma das melhores apresentações do evento e uma aula de como mostrar na prática uma inovação funcionando.
Um ponto muito relevante sobre essas 5 inovações: elas foram apresentadas isoladamente, então eu também te apresentei elas isoladamente.
Agora pense no impacto dessas ideias combinadas.
Pense na conexão de transporte, saúde e energia aplicadas nas nossas cidades.
Mesmo tendo visto todas as apresentações, eu ainda tenho bastante dificuldade de projetar o que seria a vida com essas inovações funcionando.
Como você acha que seria?
Não sei se você percebeu, mas todas essas ideias estão sendo desenvolvidas e criadas no “Oriente”.
Uma impressão que fiquei é que a Ásia, novamente, deu um show em mostrar suas inovações (um dos focos da exposição também é gerar negócios e captar investimentos para os países).
Já tinha ficado com a impressão em Dubai que aquele lado do mundo está muito mais evoluído do que as notícias nos mostram por aqui e com esse evento reforcei ainda mais essa visão.
Enquanto isso, Europa e Estados Unidos que tinham apresentado ideias e conceitos muito legais em Dubai parece terem errado a mão e mostraram “mais do mesmo” ou não mostraram nada nos seus pavilhões.
Você pode estar se perguntando: “E o Brasil?”.
Bom, a gente manteve o padrão de Dubai: passar vergonha.
Em Dubai, colocamos duas pessoas vestidas de onça lambendo a “pata” sob o sol de 40 graus para demonstrar a fauna da Amazônia.
No Japão, fomos o único pavilhão de grandes países que não abriu junto com feira. A abertura do pavilhão do Brasil atrasou 4 dias da data oficial de abertura da exposição (sendo que o pavilhão deveria estar pronto 3 meses antes)
Conseguimos visitá-lo no nosso último dia de feira (fomos 3 dias para conseguir ver tudo).
Dentro do pavilhão, uma apresentação aleatória, um brinde de vestir que nada tinha a ver com a cultura brasileira e um vídeo feito especialmente para receber os japoneses que tinha os seguintes trechos:
- “O Brasil, conhecido mundialmente pelo Carnaval e pelo Futebol”
- “A parceria entre Japão em Brasil vem de longa data. Enquanto o Japão investiu em construção de fábricas e compartilhamento de tecnologia em território brasileiro, o Brasil é o país que mais exporta café para o Japão”.
Não adianta, “o agro é pop”.
Você pode até me achar crítico demais, mas acho que todo mundo já sabe que o Brasil tem Carnaval e Futebol, não daria pra apresentar um pouco mais do que temos de bom ao invés de reforçar que somos “só carnaval e futebol”?
Outra, até quando vamos nos apresentar como a “fazendinha do mundo”?
Sei que o agro é extremamente importante, não me entenda errado, mas acho que já passou do tempo de nos apresentarmos apenas como um país de setor primário. Enfim...foi a imagem que resolvemos levar para uma feira mundial.
Provavelmente, vamos fechar novos contratos de exportação de café, grãos, carne, etc..., alguns “gringos” vão vir conhecer o carnaval do Rio e de Salvador ano que vem e o time que montou a exposição vai concluir que o vídeo foi um sucesso. Segue o jogo.
É justamente esse tipo de tema que vou explorar na News da próxima semana.
Coisas que vi na maior feira mundial de cultura e inovação que podem nos ensinar a melhorar como empresas e profissionais, tanto exemplos positivos quanto negativos, pois podemos aprender com ambos.
O percurso de hoje vai acabando por aqui, mas, antes disso, seu momento de refletir:
- Como você acha que inovações como essa podem mudar nosso mundo?
- Você acha que vai mudar alguma coisa na sua vida?
Compartilha comigo! Vou gostar muito de conversar sobre o tema e aprender um pouco com a sua visão.
Até a próxima milha,
Mazzillo
Dados no Cotidiano: o impacto de uma Expo
Uma Expo recebe, em média, 25 milhões de visitantes durante os seus 6 meses aberta.
A maior parte desses visitantes é do próprio país ou de países próximos.
Nessa Expo de Osaka, estima-se que pelo menos 28 milhões de visitantes únicos irão explorar a feira, sendo cerca de 60% japoneses (16,8 milhões de pessoas).
Considerando que o Japão tem 124 milhões de habitantes, isso equivale dizer que aproximadamente 15% da população japonesa vai ter acesso ao que de mais inovador está se fazendo no mundo.
O sucesso deles como país, mesmo tendo duas bombas atômicas no seu território, não é à toa.
Vá uma milha a mais
A milha extra de hoje é para você se aprofundar nas inovações que comentei. Busquei alguns vídeos e textos que explicam o funcionamento de cada uma para você poder se aprofundar.