- The Extra Mile
- Posts
- A sabedoria do velho mundo
A sabedoria do velho mundo
Como eu poderia deixar a minha marca no mundo, pensei, sem antes sair para vê-lo?
Roma é conhecida como a cidade eterna. Essa definição se deve pela sua longevidade, pela sua história e por todas os acontecimentos que já ocorreram naquela terra.
Não é incomum, andando pela cidade, nos depararmos com construções de antes de Cristo, mais de 2000 anos de história, terremotos, invasões, guerras e ainda vemos paredes de pé.
Por sinal, ver a arquitetura romana quase me fez pensar que “emburrecemos” em algumas áreas.
Como foi possível construírem obras de engenharia tão mais complexas e ricas em detalhes do que hoje com uma tecnologia, em tese, muito inferior, sem grandes máquinas e ferramentas.
O Coliseu demorou menos de 10 anos para ser construído. Quase que tivemos estádios da Copa de 2022 que demoraram isso...
Falando com as pessoas, ouvindo e lendo as histórias e observando a cidade, achei que “cidade eterna” pode ter outra motivação.
O conhecimento e a sabedoria presente naquela cidade fazem com que ela perdure no tempo. Eis nosso percurso de hoje pelo velho mundo: a busca pelo conhecimento.
Na News passada, falamos sobre o início do processo para transformar ideias em realidade, a tomada de decisão (caso não tenha lido, o link está aqui).
Agora vamos entrar na segunda etapa, muitas vezes ignorada pelas pessoas.
As expedições do império Romano não geraram apenas riqueza material e cultural, mas também riqueza de conhecimento.
Esse conhecimento era passado adiante de mentores para seus aprendizes, que, provando saber fazer uso e aumentar esse conhecimento se tornavam novos mentores.
Isso era válido, inclusive dentro dos gladiadores. Os guerreiros com maior experiência em combate poderiam ganhar a liberdade e passar a ensinar os guerreiros mais jovens nas escolas da cidade.
Esse processo de busca e transmissão de conhecimento permitiu que Roma avançasse muito no tempo, principalmente em relação à arquitetura e engenharia.
Enquanto os gregos, por exemplo, construíam seus prédios e templos usando pedras como base, os romanos já haviam inventado o que viríamos a conhecer depois como cimento.
Isso acelerou muito as construções e foi o que permitiu o Coliseu ser construído tão rápido.
Uma pequena diferença fruto do processo de conhecimento e criação. Em pouco tempo, isso distanciou as regiões em “décadas” de evolução.
Outra área em que isso se aplica muito na Itália é a culinária. Impressionante ver o quanto o conhecimento passa de geração para geração e o quanto eles se mantém fiéis aos princípios, como dar prioridade máxima a cozinhar com os ingredientes frescos da estação e ser fiel às receitas clássicas (como a famosa Carbonara, que não é feita com bacon ou muito menos creme de leite).
E por que essas histórias são relevantes para nós?
Bom, estamos aqui, em outra realidade, tentando construir nossas carreiras, empresas e famílias.
Tomamos um número muito maior de decisões diariamente (35 mil aproximadamente, se você lembra).
Temos absoluto maior acesso a qualquer tipo de conhecimento (fizemos na viagem muitas visitas autoguiadas usando o ChatGPT, por exemplo). E esse conhecimento é amplo e disponível para a grande maioria da população (bem diferente da Roma Antiga).
Parece, no entanto, que usamos, proporcionalmente, muito menos o conhecimento disponível.
E é essa etapa do processo que muitas vezes irá dizer se você irá ou não conseguir ter sucesso com a sua decisão.
Lembra do que falamos que o desempenho de um sistema é determinado pelo elo mais fraco. Se você não busca o conhecimento necessário para executar suas ideias, sua performance será limitada ao conhecimento que você já tem.
Leia a história de grandes empresários ou empreendedores, todos eles tiveram mentores muito importantes na jornada. Todos tiveram processos de estudo e inspiração muito relevantes para conseguirem trazer suas ideias à realidade.
E um ponto é muito relevante nisso, quando você busca conhecimento e sabedoria com mentores, com outras pessoas ou em livros/internet, esse conhecimento a mais não soma, ele multiplica.
O conhecimento conquistado serve como piso para você começar a construir e executar. E a partir dele, você coloca a “sua cara” e executa.
A frase de Phil Knight que abriu a News é genial por causa disso. Ele queria construir uma marca de impacto global. Como ele faria isso sem conhecer as outras culturas? Sem conhecer, de alguma forma, os países que mais estavam fazendo inovações nesse mercado (no caso dele, o Japão).
Às vezes, o excesso de disponibilidade de informação nos paralisa, então vou contar um pouco do processo que eu tenho usado para buscar conhecimento esperando que isso, em algum grau, ajude você.
1 – Buscar referências com pessoas próximas
Aqui, normalmente, elenco pessoas que considero qualificadas no conhecimento que preciso. Além de trocar ideias sobre o assunto, minhas perguntas mais importantes são:
· “como você buscou ou ainda busca conhecimento sobre esse tema?”;
· “quais são suas principais referências nesse assunto?”;
· “o que eu não poderia deixar de aprofundar sobre o tema”.
Essas 3 perguntas me ajudam a coletar não apenas parte da sabedoria que a pessoa desenvolveu sobre o assunto, mas também o como ela buscou aquilo.
Se você conseguir falar com mais de uma pessoa e as indicações convergirem, você sabe que ali tem uma excelente fonte de conhecimento.
2 – Acelerar o processo com Mentores
Se você quer trilhar determinado caminho, uma ótima fonte de conhecimento é buscar alguém que já o fez ou que o faz diariamente e sabe ensinar outros a fazerem
Chamamos essas pessoas de mentores. Repare que é fundamental que elas saibam ensinar outros a fazerem (e nem vou comentar a necessidade de saber fazer...)
Existem pessoas geniais em certas áreas, mas elas não conseguem transmitir conhecimentos. São boas inspirações, mas mentores ruins.
A meu ver, a grande vantagem de ter um ou vários mentores, é ter alguém com a capacidade de interpretar o seu contexto, o seu momento e lhe dar conselhos personalizados.
Com o acesso que temos hoje (via redes sociais, canais, etc...), podemos encontrar mentores em qualquer canto do mundo e, muitas vezes, conseguir acesso para uma conversa ou até para um processo mais detalhado.
Ao longo da minha jornada, foram os investimentos que mais vi trazerem retorno, seja para mim, seja para as empresas que estava ou aconselhava/mentorava.
Esse inclusive foi um dos motivos de eu criar a Lumos, a mentoria da Witly na parte de inteligência de dados e crescimento.
3 – Aprofundar conhecimento com Livros
Gosto de dividir a busca de conhecimento via livros (ou materiais escritos) em duas partes: conhecimento base e conhecimento aplicado.
Vamos usar um exemplo de marketing.
Eu posso ler livros sobre como convencer as pessoas mais facilmente, sobre como prender a atenção, sobre como gerar ação. Todos esses são conhecimentos aplicados.
Se eu quiser buscar o conhecimento base (que julgo extremamente necessário), precisaria estudar comportamento humano, tomada de decisão, etc...
Gosto de começar pela base para depois ir para o aplicado, do contrário, você estará sempre preso a interpretação de uma outra pessoa sobre algum conceito (que é absolutamente válida, desde que você conheça o conceito).
4 – Transformar o ChatGPT (ou a IA de sua preferência) em seu professor particular.
Existe muito que pode ser feito aqui, muito mais do que o meu próprio conhecimento (e esse é um dos motivos que tem me levado a estudar tanto sobre o assunto).
Antes de entrar nas aplicações, uma coisa que melhorou muito as respostas que tenho obtido foi criar um projeto específico para cada conhecimento que quero aprofundar e descrever no detalhe algumas coisas:
· Como eu gosto de receber informação (com as fontes detalhadas para eu poder aprofundar, com exemplos e analogias, etc...)
· Quais os formatos da minha preferência para consumir (vídeos, textos, etc...)
· Coisas que eu sempre quero inclusas (livros, pessoas referência, etc...)
· Para o que vou usar aquele conhecimento (isso faz com que ele contextualize muito melhor)
Agora, vamos às aplicações:
· Tirar dúvidas diretas: aqui é para quando você já sabe o que perguntar (e até meio óbvio). Dependendo da dúvida, é legal pedir para ele trazer diferentes perspectivas sobre o assunto.
· Perguntar “o que eu deveria estar perguntando sobre determinado assunto?” ou “quais seriam as melhores perguntas para me tornar um especialista no assunto em questão”.
· Perguntar como determinadas pessoas pensariam naquela decisão e qual processo elas seguiriam para colocá-lo em prática (e até como elas buscariam o conhecimento para tal)
· Perguntar quais conhecimentos base estão envolvidos naquela decisão e como eles se relacionam
· Perguntar quais são os conteúdos (livros, vídeos, etc...) fundamentais para ter uma visão aprofundada sobre o assunto.
A partir de tudo que coletei com essas quatro formas, organizo o que é mais relevante frente ao conhecimento que preciso e ao plano que tenho (isso para mim é fundamental, preciso trazer tudo que foi falado e pesquisado para o meu contexto, caso ainda não esteja).
É claro que não uso todas essas etapas para todas ações e decisões, mas sei que o processo está ali para quando eu precisar dele, principalmente, na busca de um novo conhecimento.
Seu momento de refletir
· Você tem um processo estruturado para busca de conhecimento?
· Você tem usado todo o conhecimento disponível a seu favor na hora de colocar suas ideias em prática?
Espero que, após esse percurso, você consiga construir ideias “com cimento”. Acredite, ficar empilhando pedras é bem mais difícil.
Espero também que um dia você possa experimentar uma verdadeira Carbonara (com guanciale, pecorino e sem creme de leite). Acredite, você nunca mais vai querer outra versão.
Grande abraço,
Mazzillo
Dados no Cotidiano: alimente-se como um italiano
Escrevendo na Itália, não tenho como não comentar sobre o estilo de alimentação. Me impressionei de quase não ver italianos “acima do peso”. Impressionante ver também como eles sempre estão comendo o que está na safra. Procurando estatísticas para mostrar o impacto disso, cheguei na tabela resumo abaixo, dados bem relevantes!
País | Consumo de ultraprocessados | Estilo predominante de dieta | Obesidade (adultos) |
---|
Itália | aprox. 10% | Dieta mediterrânea (natural) | aprox. 19% |
Brasil | aprox. 20% | Misto: comida caseira + ultraprocessados | aprox. 25% |
EUA | aprox. 60% | Alta em ultraprocessados/fast food | aprox. 42% |
Vá uma milha a mais
Como essa é uma News que fala de busca pelo conhecimento, não poderia deixar de recomendar um conhecimento base que é como funciona nosso processo de aprendizado. Fiz esse curso na época que o Coursera ainda bombava. O conhecimento presente nele vale muito a pena “Aprendendo a aprender”