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Correr sem tapa olho
faz toda a diferença
Superestimamos nossa capacidade de curto prazo, mas subestimamos nossa capacidade de longo prazo.
Vou propor um exercício que vai abrir sua visão sobre análise de dados e superficialidade.
Ele é bem simples.
Você vai precisar de um item e de um local.
O item é um tapa olho de pirata (que só tapa um olho) e o local pode ser qualquer um que você nunca foi (vale uma loja, a sala de um amigo, uma rua diferente no seu bairro…)
A única coisa que aconselho é escolher um lugar sem objetos que possam quebrar ou te machucar - você já vai entender o motivo.
Tendo isso, basta vestir o tapa-olho e se dirigir a esse lugar e explorá-lo.
Eu aposto com você que nada vai estar no lugar que parece, sua mão vai passar em falso tentando pegar os objetos e você vai dar alguns passos em falso.
O que acontece é que, ao tapar um olho, você perde a noção de profundidade.
Nosso cérebro precisa dos dois olhos, cada um captando uma imagem e gerando uma comparação para calcular a profundidade com precisão (o termo técnico é disparidade binocular).
Com o tapa olho, a cena parece clara, você enxerga e entende tudo que está nela, mas não consegue interpretar direito, o que te leva ao erro.
Uma análise de dados superficial e/ou apenas de curto prazo gera o exato mesmo resultado.
Você acha que está entendendo a situação e enxergando claramente, mas, na verdade, te falta profundidade para discernir e interpretar cada um daqueles números.
É engraçado...
Apesar de eu ter dado esse exemplo dezenas de vezes em treinamento, eu estava caindo na mesma armadilha.
Há aproximadamente 3 meses, me dei conta disso (contei essa história na edição “Ar rarefeito”).
Eu estava avaliando minha performance na corrida com as métricas erradas, no horizonte de tempo errado e sem considerar os fatores externos/contexto. Ou seja, o dado estava lá, mas minha interpretação sobre ele estava errada.
Naquela edição, comentei que mudaria minha visão de treino com a quase certeza que meu resultado melhoraria. Naquela edição, eu havia tirado o tapa olho.
Hoje, venho prestar contas e compartilhar aprendizados.
E, mais do que isso, mostrar como a lição que aprendi pode ser aplicada na sua empresa ou na sua vida.
Sim, meu resultado melhorou, e não foi pouco.
Mas não foi tão rápido, o que me fez quase desistir no meio do caminho (também contei sobre esse processo na edição “A equação da Disciplina”.)
Quando eu escrevi o texto acima, há pouco mais de um mês, não imaginava que meu salto de resultado estava tão próximo.
Meu ritmo começou a melhorar, minha frequência cardíaca despencou e meu VO2max atingiu um nível que eu não tinha desde 2023.

O VO₂máx (ou consumo máximo de oxigênio) é a maior quantidade de oxigênio que o corpo consegue captar, transportar e utilizar durante um exercício intenso. Quanto maior o VO₂máx, maior a eficiência para sustentar esforços longos.
Mais de dois meses de uma evolução muito lenta para ter um salto gigante de performance em pouco menos de 3 semanas.
Para ter uma comparação, sair de um VO2 de 50 para um VO2 de 57 é como aumentar seus rendimentos de R$5.000/mês para R$50.000/mês.
Durante as muitas milhas que corri durante esses meses, entendi que o que me permitiu chegar nesse resultado foi a concatenação de 4 engrenagens:
Domínio do processo
Consistência na execução
Controle da performance
Aprendizado e melhoria
Pense nelas como um ciclo que se retroalimenta.
Domínio do Processo
Saber o que precisa ser feito, como precisa ser feito, por que precisa ser feito e como medir o resultado.
Se você sabe responder esses 4 pontos, você domina o processo.
No meu caso, eu sabia que para melhorar minha performance nas corridas tinha que:
Aumentar minha constância de treinos: só assim para o corpo se acostumar mais rápido com os fatores externos de altitude e temperatura
Ter um volume mínimo de quilômetros ou tempo em cada treino: aumentar o volume percorrido faz com que a performance melhore no médio prazo
Não fazer treinos que prejudicassem o treino seguinte por desgaste extremo: não podia deixar a frequência cardíaca disparar ou meu tempo de recuperação me impediria de ter constância nos treinos
Eu mediria isso acompanhando indicadores de processo (distância percorrida e tempo) e de resultado (frequência cardíaca, velocidade e tempo de recuperação).
Eu tinha um plano, agora precisava executá-lo.
Trace o paralelo com marketing: você precisa melhorar seus resultados.
Responda as 4 perguntas e você tem um plano. Para dar um exemplo, vamos supor que para melhorar minhas vendas eu preciso:
Aumentar minha constância de postagem e subida de novos anúncios
Ter um volume mínimo de conteúdos e anúncios produzidos toda semana
Definir como vou acompanhar os indicadores de processo e resultado
Não deixar que essa mudança de processo e as metas que eu colocar destruam a produtividade do meu time (ou a minha por cansaço)
Consistência na execução
A essa altura do campeonato, você já deve saber que não adianta ser consistente em um processo ou atividade errada, por isso o domínio do processo precede tudo.
Por consistência na execução, leia: definir metas claras e atingíveis e atingi-las.
Eu sabia o que precisava fazer e o que precisava medir, então organizei dessa forma:
Meta/Indicador | No caso da corrida | No caso das vendas |
---|---|---|
Frequência Mínima | Correr pelo menos 4x na semana, pois minhas melhores evoluções em corrida foram nessa frequência | Tenho que estar ativo nas redes pelo menos 5x na semana e subir X anúncios novos toda semana. |
Volume Mínimo | Cada corrida nos dias úteis precisa ter pelo menos 7km. No final de semana, 10km. Isso são pelo menos 30km toda semana, o que aumentaria minha distância percorrida no mês. | Vou gravar e subir pelo menos 4 anúncios novos toda semana e fazer pelo menos um post e uma sequência de stories em 5 dias |
Esforço Máximo | Meus batimentos não podem passar de 170bpm. Meu tempo de recuperação durante a semana precisa ser inferior a 24h para não prejudicar o treino seguinte. | Esse processo não pode tomar mais de um turno da minha semana e não pode interferir negativamente nas demais atividades do time. |
Resultado | Preciso fazer isso conseguindo manter uma velocidade próxima de 12km/h. Avaliar a performance pela melhora do VO2máx. | Os conteúdos orgânicos precisam pelo menos X de engajamento. Os anúncios precisam gerar vendas de até Y reais. Vou medir a performance real pelo número de vendas. |
Monte o plano, defina a barra e se comprometa em atingi-la ou superá-la toda semana. A cada semana que você bate a meta, a próxima fica mais fácil.
Controle da performance
Essa é a parte que mata muita gente, não por não conseguir medir o resultado, mas por medi-lo no horizonte temporal errado.
Olha esse meu exemplo da corrida. Vou te mostrar a distância que percorri durante esses 3 meses de 3 formas diferentes:

Distância percorrida a cada dia
Parece ter alguma evolução nesse gráfico? Difícil de ver...
Agora olhe os mesmos dados em outro período:

Distância percorrida a cada semana
Ainda não fica tão claro, mas dá pra ver uma leve melhora.
E se deixarmos o período ainda maior?

Distância percorrida a cada mês (a linha pontilhada em Agosto mostra o quanto foi até agora e a barra mostra a projeção conservadora)
A melhora fica evidente.
Os dados são rigorosamente os mesmos, a única coisa que mudou foi olhá-los por dia, semana ou mês.
Sei que isso acontece da mesma maneira com nosso exemplo das vendas (dados todos os clientes que acompanhamos na Witly.)
Se você toma a decisão olhando apenas o curto prazo, nunca chega no benefício do longo.
Aprendizado e melhoria
O que deu certo? O que deu errado? O que posso fazer diferente?
Responda isso a cada semana e a próxima tende a gerar um resultado melhor.
Eu fui entendendo que tipo de corrida era melhor a cada dia, como eu adaptava um treino em um dia muito quente, como correr um pouco a mais em um dia que o rendimento está muito bom.
A mesma coisa vale para o exemplo das vendas: qual conteúdo ou tipo de anúncio funcionou melhor? O que você deve repetir ou aumentar o volume? Quais formatos não valem o esforço ou não dão resultado?
Cada pequeno ciclo concluído é uma grande oportunidade de melhorar.
Em 3 meses, se você melhora 5% a cada semana, encerra o período com uma melhora composta de quase 100%, ou seja, você dobra o seu resultado.
Como gerar um ciclo virtuoso
Essas 4 engrenagens tem um pequeno detalhe.
Um detalhe que se você entender, vai tornar o processo e o resultado muito mais efetivo.
Quanto melhor você dominar uma etapa, mais potencial de resultado ela gera na próxima.
O fato de eu saber o que precisava fazer para melhorar minha corrida (domínio do processo) me deu confiança para seguir um plano difícil na etapa de consistência.
O fato de eu conseguir me manter consistente e ver meu resultado melhorar me gerou satisfação e empolgação para medi-los.
O fato de eu já estar tendo algum resultado e ainda encontrar possibilidades de melhoria, fez eu aprender mais e ter ainda mais satisfação com o processo.
E isso fez com que meu domínio do processo aumentasse, ficasse mais profundo, o que me gerava mais confiança ainda.
E o ciclo girou semana após semana até o resultado ser impossível de ignorar.
Vale para a corrida e qualquer outro esporte, vale para melhoria do resultado da sua empresa ou do seu conhecimento pessoal. Mas tem que seguir o processo.
Seu momento de refletir
- Será que existe alguma habilidade ou ação que ia dar resultado em pouco tempo e você parou antes do que devia?
- Quais são os ajustes e ações que você precisa fazer para gerar um ciclo virtuoso para você?
Espero que tenha curtido o percurso de hoje.
Grande abraço e até a próxima milha,
César Mazzillo
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Dados no Cotidiano:
Estudar espaçado é muito melhor do que fazer correria no último dia. (artigo original)
Um estudo publicado pelo JACR (Journal of the American College of Radiology) comparou a eficácia do spaced learning (aprendizagem intercalada) contra o massed learning (aprendizagem concentrada, tipo “maratona de última hora”).
O contexto deles era o estudo de radiologia, fico curioso de ver esse estudo em outros âmbitos, por sinal.
O resultado principal foi que, após 1 hora de aprendizado, os participantes que estudaram com intervalos (intercalando os conteúdos), obtiveram notas em média 14% maiores do que os que fizeram estudo concentrado.
Além disso, a análise mostrou que distribuir o estudo, mesmo mantendo o tempo total igual, produz retenção significativamente melhor no curto prazo, beneficiando quem consegue ser consistente nos seus estudos e atividades.
Vá uma milha a mais:
Falando de consistência com qualidade, conheço poucas pessoas no marketing com uma trajetória tão consistente de execução e resultados como o Leandro Ladeira.
Essa semana ele decidiu começar uma newsletter para compartilhar suas visões, estratégias e piadas.
Se você quer ganhar uma melhor visão de marketing com um cara que realmente aplica aquilo que ensina, te inscreve aqui.