Correr sem tapa olho

faz toda a diferença

Superestimamos nossa capacidade de curto prazo, mas subestimamos nossa capacidade de longo prazo.

Roy Amara

Vou propor um exercício que vai abrir sua visão sobre análise de dados e superficialidade.

Ele é bem simples.

Você vai precisar de um item e de um local.

O item é um tapa olho de pirata (que só tapa um olho) e o local pode ser qualquer um que você nunca foi (vale uma loja, a sala de um amigo, uma rua diferente no seu bairro…)

A única coisa que aconselho é escolher um lugar sem objetos que possam quebrar ou te machucar - você já vai entender o motivo.

Tendo isso, basta vestir o tapa-olho e se dirigir a esse lugar e explorá-lo.

Eu aposto com você que nada vai estar no lugar que parece, sua mão vai passar em falso tentando pegar os objetos e você vai dar alguns passos em falso.

O que acontece é que, ao tapar um olho, você perde a noção de profundidade.

Nosso cérebro precisa dos dois olhos, cada um captando uma imagem e gerando uma comparação para calcular a profundidade com precisão (o termo técnico é disparidade binocular).

Com o tapa olho, a cena parece clara, você enxerga e entende tudo que está nela, mas não consegue interpretar direito, o que te leva ao erro.

Uma análise de dados superficial e/ou apenas de curto prazo gera o exato mesmo resultado.

Você acha que está entendendo a situação e enxergando claramente, mas, na verdade, te falta profundidade para discernir e interpretar cada um daqueles números.

É engraçado...

Apesar de eu ter dado esse exemplo dezenas de vezes em treinamento, eu estava caindo na mesma armadilha.

Há aproximadamente 3 meses, me dei conta disso (contei essa história na edição “Ar rarefeito”).

Eu estava avaliando minha performance na corrida com as métricas erradas, no horizonte de tempo errado e sem considerar os fatores externos/contexto. Ou seja, o dado estava lá, mas minha interpretação sobre ele estava errada.

Naquela edição, comentei que mudaria minha visão de treino com a quase certeza que meu resultado melhoraria. Naquela edição, eu havia tirado o tapa olho.

Hoje, venho prestar contas e compartilhar aprendizados.

E, mais do que isso, mostrar como a lição que aprendi pode ser aplicada na sua empresa ou na sua vida.

Sim, meu resultado melhorou, e não foi pouco.

Mas não foi tão rápido, o que me fez quase desistir no meio do caminho (também contei sobre esse processo na edição “A equação da Disciplina”.)

Quando eu escrevi o texto acima, há pouco mais de um mês, não imaginava que meu salto de resultado estava tão próximo.

Meu ritmo começou a melhorar, minha frequência cardíaca despencou e meu VO2max atingiu um nível que eu não tinha desde 2023.

O VO₂máx (ou consumo máximo de oxigênio) é a maior quantidade de oxigênio que o corpo consegue captar, transportar e utilizar durante um exercício intenso. Quanto maior o VO₂máx, maior a eficiência para sustentar esforços longos.

Mais de dois meses de uma evolução muito lenta para ter um salto gigante de performance em pouco menos de 3 semanas.

Para ter uma comparação, sair de um VO2 de 50 para um VO2 de 57 é como aumentar seus rendimentos de R$5.000/mês para R$50.000/mês.

Durante as muitas milhas que corri durante esses meses, entendi que o que me permitiu chegar nesse resultado foi a concatenação de 4 engrenagens:

  • Domínio do processo

  • Consistência na execução

  • Controle da performance

  • Aprendizado e melhoria

Pense nelas como um ciclo que se retroalimenta.

Domínio do Processo

Saber o que precisa ser feito, como precisa ser feito, por que precisa ser feito e como medir o resultado.

Se você sabe responder esses 4 pontos, você domina o processo.

No meu caso, eu sabia que para melhorar minha performance nas corridas tinha que:

  • Aumentar minha constância de treinos: só assim para o corpo se acostumar mais rápido com os fatores externos de altitude e temperatura

  • Ter um volume mínimo de quilômetros ou tempo em cada treino: aumentar o volume percorrido faz com que a performance melhore no médio prazo

  • Não fazer treinos que prejudicassem o treino seguinte por desgaste extremo: não podia deixar a frequência cardíaca disparar ou meu tempo de recuperação me impediria de ter constância nos treinos

Eu mediria isso acompanhando indicadores de processo (distância percorrida e tempo) e de resultado (frequência cardíaca, velocidade e tempo de recuperação).

Eu tinha um plano, agora precisava executá-lo.

Trace o paralelo com marketing: você precisa melhorar seus resultados.

Responda as 4 perguntas e você tem um plano. Para dar um exemplo, vamos supor que para melhorar minhas vendas eu preciso:

  • Aumentar minha constância de postagem e subida de novos anúncios

  • Ter um volume mínimo de conteúdos e anúncios produzidos toda semana

  • Definir como vou acompanhar os indicadores de processo e resultado

  • Não deixar que essa mudança de processo e as metas que eu colocar destruam a produtividade do meu time (ou a minha por cansaço)

Consistência na execução

A essa altura do campeonato, você já deve saber que não adianta ser consistente em um processo ou atividade errada, por isso o domínio do processo precede tudo.

Por consistência na execução, leia: definir metas claras e atingíveis e atingi-las.

Eu sabia o que precisava fazer e o que precisava medir, então organizei dessa forma:

Meta/Indicador

No caso da corrida

No caso das vendas

Frequência Mínima

Correr pelo menos 4x na semana, pois minhas melhores evoluções em corrida foram nessa frequência 

Tenho que estar ativo nas redes pelo menos 5x na semana e subir X anúncios novos toda semana.

Volume Mínimo

Cada corrida nos dias úteis precisa ter pelo menos 7km. No final de semana, 10km. Isso são  pelo menos 30km toda semana, o que aumentaria minha distância percorrida no mês.

Vou gravar e subir pelo menos 4 anúncios novos toda semana e fazer pelo menos um post e uma sequência de stories em  5 dias 

Esforço Máximo

Meus batimentos não podem passar de 170bpm. Meu tempo de recuperação durante a semana precisa ser inferior a 24h para não prejudicar o treino seguinte.

Esse processo não pode tomar mais de um turno da minha semana e não pode interferir negativamente nas demais atividades do time.

Resultado

Preciso fazer isso conseguindo manter uma velocidade próxima de 12km/h. Avaliar a performance pela melhora do VO2máx.

Os conteúdos orgânicos precisam pelo menos X de engajamento. Os anúncios precisam gerar vendas de até Y reais. Vou medir a performance real pelo número de vendas.

Monte o plano, defina a barra e se comprometa em atingi-la ou superá-la toda semana. A cada semana que você bate a meta, a próxima fica mais fácil.

Controle da performance

Essa é a parte que mata muita gente, não por não conseguir medir o resultado, mas por medi-lo no horizonte temporal errado.

Olha esse meu exemplo da corrida. Vou te mostrar a distância que percorri durante esses 3 meses de 3 formas diferentes:

Distância percorrida a cada dia

Parece ter alguma evolução nesse gráfico? Difícil de ver...

Agora olhe os mesmos dados em outro período:

Distância percorrida a cada semana

Ainda não fica tão claro, mas dá pra ver uma leve melhora.

E se deixarmos o período ainda maior?

Distância percorrida a cada mês (a linha pontilhada em Agosto mostra o quanto foi até agora e a barra mostra a projeção conservadora)

 A melhora fica evidente.

Os dados são rigorosamente os mesmos, a única coisa que mudou foi olhá-los por dia, semana ou mês.

Sei que isso acontece da mesma maneira com nosso exemplo das vendas (dados todos os clientes que acompanhamos na Witly.)

Se você toma a decisão olhando apenas o curto prazo, nunca chega no benefício do longo.

Aprendizado e melhoria

O que deu certo? O que deu errado? O que posso fazer diferente?

Responda isso a cada semana e a próxima tende a gerar um resultado melhor.

Eu fui entendendo que tipo de corrida era melhor a cada dia, como eu adaptava um treino em um dia muito quente, como correr um pouco a mais em um dia que o rendimento está muito bom.

A mesma coisa vale para o exemplo das vendas: qual conteúdo ou tipo de anúncio funcionou melhor? O que você deve repetir ou aumentar o volume? Quais formatos não valem o esforço ou não dão resultado?

Cada pequeno ciclo concluído é uma grande oportunidade de melhorar.

Em 3 meses, se você melhora 5% a cada semana, encerra o período com uma melhora composta de quase 100%, ou seja, você dobra o seu resultado.

Como gerar um ciclo virtuoso

Essas 4 engrenagens tem um pequeno detalhe.

Um detalhe que se você entender, vai tornar o processo e o resultado muito mais efetivo.

Quanto melhor você dominar uma etapa, mais potencial de resultado ela gera na próxima.

O fato de eu saber o que precisava fazer para melhorar minha corrida (domínio do processo) me deu confiança para seguir um plano difícil na etapa de consistência.

O fato de eu conseguir me manter consistente e ver meu resultado melhorar me gerou satisfação e empolgação para medi-los.

O fato de eu já estar tendo algum resultado e ainda encontrar possibilidades de melhoria, fez eu aprender mais e ter ainda mais satisfação com o processo.

E isso fez com que meu domínio do processo aumentasse, ficasse mais profundo, o que me gerava mais confiança ainda.

E o ciclo girou semana após semana até o resultado ser impossível de ignorar.

Vale para a corrida e qualquer outro esporte, vale para melhoria do resultado da sua empresa ou do seu conhecimento pessoal. Mas tem que seguir o processo.

Seu momento de refletir

- Será que existe alguma habilidade ou ação que ia dar resultado em pouco tempo e você parou antes do que devia?

- Quais são os ajustes e ações que você precisa fazer para gerar um ciclo virtuoso para você?

Espero que tenha curtido o percurso de hoje.

Grande abraço e até a próxima milha,

César Mazzillo

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Dados no Cotidiano:

Estudar espaçado é muito melhor do que fazer correria no último dia. (artigo original)

Um estudo publicado pelo JACR (Journal of the American College of Radiology) comparou a eficácia do spaced learning (aprendizagem intercalada) contra o massed learning (aprendizagem concentrada, tipo “maratona de última hora”).

O contexto deles era o estudo de radiologia, fico curioso de ver esse estudo em outros âmbitos, por sinal.

O resultado principal foi que, após 1 hora de aprendizado, os participantes que estudaram com intervalos (intercalando os conteúdos), obtiveram notas em média 14% maiores do que os que fizeram estudo concentrado.

Além disso, a análise mostrou que distribuir o estudo, mesmo mantendo o tempo total igual, produz retenção significativamente melhor no curto prazo, beneficiando quem consegue ser consistente nos seus estudos e atividades.

Vá uma milha a mais: 

Falando de consistência com qualidade, conheço poucas pessoas no marketing com uma trajetória tão consistente de execução e resultados como o Leandro Ladeira.

Essa semana ele decidiu começar uma newsletter para compartilhar suas visões, estratégias e piadas. 

Se você quer ganhar uma melhor visão de marketing com um cara que realmente aplica aquilo que ensina, te inscreve aqui.